"Eu trouxe o carnaval do Rio de Janeiro para Assis", diz Mosquito, ex-presidente do Clube Recreativo
Após décadas, os bailes organizados por Mosquito seguem na memória dos assisenses
Existe um famoso ditado popular que diz que o ano só começa em fevereiro, após o término do Carnaval. Porém, 2021 é uma exceção. As fantasias não saíram do armário, os blocos não foram para as ruas e o sorriso dos foliões foram cobertos pelas máscaras. A maior e mais famosa festa popular do mundo não ocorreu devido à pandemia de COVID-19, mas não é por isso que não se fala sobre o Carnaval de salão que movimentou Assis no século passado.
Está localizado na Rua Smith Vasconcelos, próximo ao Assis Plaza Shopping, um dos maiores e mais imponentes locais da região quando o assunto é Carnaval. Com sua arquitetura e vitrais imponentes, planejados pelo renomado arquiteto João Walter Toscano, o Clube Recreativo de Assis, ou Palácio de Vidro, como era conhecido, recebeu bailes entre as décadas de 70 e 80, bailes de Carnaval que ficarão para sempre marcados na história da cidade. Por um bom tempo, quem ficava responsável pela linha de frente de toda logística de organização era o ex-presidente do clube, William Homse, o popular Mosquito. Em entrevista exclusiva ao portal AssisCity, ele contou como era a folia assisense.
"Eram 4 meses de estudos e preparação para realizar o Carnaval do Clube Recreativo. Meu ponto forte era o capricho na decoração e a logística para evitar brigas durante o evento, por se tratar de uma festa familiar", disse Mosquito.
O Clube recebia aproximadamente 3 mil pessoas durante as festas e com todo esse sucesso teve que sair da quadra para o salão principal. Com um espaço mais amplo, Mosquito focou ainda mais na decoração, algo que considerava o ponto chave do sucesso do evento e afastava a concorrência.
"Não tinha concorrentes, uma vez que os outros clubes da cidade não faziam festas como as nossas. A decoração era nosso carro-chefe. Brinco que até aqueles que chegavam bêbados já melhoravam logo ao entrarem para ver nossa decoração", brincou o ex-presidente do Clube Recreativo.
A inspiração de Mosquito foi trazer o Carnaval do Rio de Janeiro, o principal da época, para o interior de São Paulo.
Segundo ele, o trabalho era árduo e começava meses antes do evento. Quando estava próximo da data, Mosquito era diariamente procurado pelos sócios do Clube, que queriam garantir seus lugares nos melhores camarotes, para que pudessem ter uma visão perfeita do desfile de fantasias.
"Os nossos carnavais eram coisa de outro mundo. Não havia iguais no Brasil. Eu trouxe o Carnaval do Rio de Janeiro para Assis. Nas semanas que antecediam as festas, as pessoas iam para minha casa atrás de convites. Era um verdadeiro sucesso", comentou Mosquito.
Quem frequentava as festas não se esquece de elogiar toda dedicação do ex-presidente do Clube.
As amigas Marilena Coelho e Maria Celeste Lisboa garantem que a decoração era o fator principal do sucesso, além de toda equipe que trabalhava nas festas.
Marilena se recorda das matinês, organizadas por Mosquito, que ocorriam durante as tardes de Carnaval e tinham as crianças como público.
"Levava minhas filhas e amigas para as matinês, que elas adoravam. Nas festas que ocorriam durante as noites, costumava ficar nos camarotes com outras famílias. A organização era perfeita, com muitas pessoas, bandas animadas e uma decoração linda. O amor do Mosquito pelo Clube era incondicional" disse Marilena.
Já Celeste, jurada do desfile de fantasias, não se esquece da dedicação que as pessoas tinham para montar suas fantasias.
"Havia um empenho das mulheres com fantasias. Os trajes eram típicos, alegres e coloridos, até mesmo por conta do concurso que tínhamos e que valiam prêmios. Nosso Carnaval não deixava a desejar em relação aos de grandes clubes do Rio de Janeiro e São Paulo" , afirmou Maria Celeste.
Com o passar dos anos, Mosquito se afastou da diretoria do Clube, o tradicional baile de Carnaval chegou ao fim e atualmente o Palácio de Vidro dá lugar a uma igreja evangélica. Apesar de seus 93 anos, engana-se quem pensa que ele não guarda lembranças daqueles tempos de folia.
"Foi um sucesso que nem eu consigo acreditar. Me sinto muito feliz e orgulhoso pelo que realizei em Assis", concluiu Mosquito.
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