Trump voltou: O que sua vitória significa para a economia global e as falsas esperanças de Bolsonaro
Trump volta à Casa Branca com promessas de protecionismo econômico e mudanças drásticas nas relações internacionais, mas seus planos podem afetar as economias, incluindo a do Brasil.
A especulação de que ele possa ajudar Bolsonaro a reverter sua inelegibilidade é apenas uma fantasia que ignora a força das instituições brasileiras e as complexidades do cenário político e econômico.
COM O SENADO E A SUPREMA CORTE, ELE ESTÁ DE VOLTA
Donald Trump voltará a comandar a maior economia do mundo. Dessa vez, a vitória foi mais expressiva. Venceu em número de delegados e de votos totais. O partido Republicano ainda assegurou a maioria no Senado. Para a Câmara a projeção também é positiva à Trump. Ele ainda contará com a Suprema Corte de maioria conservadora. O caminho para sua gestão extremista está aberto. Terá melhor governabilidade.
O 47° presidente dos EUA mobilizou as massas utilizando técnicas discursivas que geram o medo e demonizam opositores. Em atitude messiânica colocou-se mais uma vez como salvador da pátria e convenceu as pessoas de que existe uma "luta entre o bem e o mal", chegou a comparar imigrantes ao canibal Hannibal Lecter, personagem do filme "O Silêncio dos Inocentes" de 1991.
A NOVA ERA DE PROTECIONISMO E O IMPACTO NO BRASIL
Dentre as principais promessas estão: deportar em massa imigrantes, remover restrições ambientais, acabar com as guerras Ucrânia/Israel e anistiar alguns condenados pala invasão ao Capitólio em 06 de janeiro de 2021.
Para a economia projeta acabar com a inflação e um choque econômico em que haverá a elevação das tarifas de 10% a 20% para todos os países com os quais mantém relações comerciais, incremento de 60% para produtos chineses, além de imposição de taxas adicionais superiores a 100% em situações específicas.
Tais medidas protecionistas objetivam tarifar os produtos estrangeiros e proteger o mercado interno. Isso afetará diretamente o Brasil nos setores agrícola, metalúrgico e de combustíveis renováveis.
A investida contra produtos chineses terá efeito colateral, já que os brasileiros exportam aproximadamente 60 bilhões de dólares em commodities à China. Se Trump efetivar sua promessa o poder de compra dos asiáticos diminuirá e afetará o comercio com os brasileiros.
TRUMP VAI SALVAR BOLSONARO? A FANTASIA QUE ALIMENTA O BOLSONARISMO
Imediatamente após o discurso da vitória, bolsonaristas criaram uma onda de otimismo em que Trump poderia exercer grande pressão sobre o Brasil em favor da reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Inclusive alguns setores da esquerda embarcaram nessa onda.
Engano, pois a conjuntura geopolítica atual não está voltada a isso. A economia brasileira é a maior da América Latina e o país desempenha forte protagonismo no BRICS. Não há motivos para qualquer sanção econômica ou algo do tipo como se comenta nas redes sociais.
Eventuais comentários favoráveis ao ex-presidente, inelegível até 2030, obviamente irão surgir. Trump irá incentivar os movimentos de extrema direita mundo afora. Mas isso passa longe de se indispor econômica e diplomaticamente com o Brasil apenas para agradar seu lacaio Jair e abalar uma relação entre os dois países que movimenta aproximadamente 75 bilhões de dólares anuais.
Além, as instituições brasileiras têm demonstrado extrema solidez em decisões fundamentadas com o objetivo de defender a democracia nos últimos anos. Por exemplo, as condenações dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado no fatídico 08 de janeiro. A Suprema Corte brasileira permanece fiel aos princípios da Constituição e ao Estado Democrático de Direito.
CELSO DE MELLO - MINISTRO APOSENTADO E EX-PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
O Ministro aposentado Celso de Mello afirmou ao jornal GGN que "A Corte Suprema do Brasil não serve a governos, a pessoas ou a grupos ideológicos, nem se curva à onipotência do poder ou aos desejos daqueles que o exercem" e que "O Supremo Tribunal Federal, expressão legítima da soberania nacional, não é vassalo de potestades estrangeiras nem instrumento servil de pretensões contestáveis, especialmente quando fundadas em pressões (ou em sutis ameaças) conflitantes com o espírito democrático que rege o Estado de Direito em nosso País!"
ECONOMIA E FINANCIAMENTO DE GUERRAS DEIXAM KAMALA FORA DO JOGO
Na gestão Biden a expectativa de um futuro promissor se esvaiu diante da queda da renda dos trabalhadores, assim, o consumo em restaurantes, serviços e lojas caíram. Para a massa eleitoral dos EUA, a economia foi o item considerado como o mais importante nessas eleições.
Embora os indicadores tenham apresentado leve melhora em 2024, o eleitor não foi convencido. O PIB (Produto Interno Bruto) apresentou aumento e o desemprego está na casa dos 4%. Porém, a inflação persiste, alimentos continuam com preço alto e o acesso à casa própria diminuiu por conta do aumento das taxas de hipotecas.
Soma-se a esses fatores, a perda de popularidade de Joe Biden, principalmente entre os jovens, devido ao financiamento às guerras de Israel e Ucrânia.
DEMOCRATAS: DIREITOS CIVIS, MAS LONGE DA ESQUERDA
Engana-se quem pensa que o partido Democrata é a esquerda estadunidense. Líderes esquerdistas norte-americanos consideram que Kamala seria a continuidade de Biden com o apoio ao massacre de civis na faixa de Gaza, a pressão aos chineses e a guerra terceirizada contra os interesses russos.
Para eles, a atual vice-presidente não atenderia o que a classe trabalhadora necessita e essa metodologia de governo que representa é fracassada ao tentar ao máximo evitar um mundo multipolar. O partido Democrata está à esquerda do partido Republicano, mas suas ações pertencem ao espectro político da direita liberal.
TRUMP E O NOVO CAPÍTULO GEOPOLÍTICO
Em suma, a ascensão de Donald Trump representa uma grande mudança na administração dos Estados Unidos, trazendo promessas de protecionismo econômico, endurecimento nas relações com os chineses e articulações para o fim das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
Internamente ele contará com um apoio robusto no Congresso e na Suprema Corte, facilitando a implementação de suas propostas. Porém, o impacto global de suas políticas pode desencadear realinhamento do comercio internacional, afetando economias como a do Brasil. Sobre possíveis influências em políticas internas, as instituições brasileiras seguem firmes, mostrando compromisso com a Constituição, a democracia e a soberania do país.