Sem apoio governamental, Assis perderá Galpão Cultural
O Galpão Cultural de Assis vive um impasse que poderá resultar no encerramento de suas atividades. Sem apoio do governo municipal para o pagamento do aluguel, o prédio que lhe serve de sede localizado na rua Dr. Teixeira de Camargo, 205, na vila Operária, deverá ser devolvido ao proprietário em menos de 60 dias.
Segundo o articulador do projeto Ponto de Cultura, Márcio Teixeira Lopes, o problema do pagamento do aluguel já vem se arrastando há dois anos. O Galpão Cultural nasceu da necessidade de cinco coletivos culturais e diversos artistas da cidade em ter um local para guardar seus equipamentos, realizar oficinas, reuniões, e eventos.
Nos três primeiros anos de existência, de 2006 a 2009, o Galpão Cultural se manteve sem auxílio governamental, mas com dificuldade para o pagamento do aluguel de sua sede. Em seguida, conseguiu apoio da gestão Ézio Spera tendo garantido o aluguel por um ano. Lopes conta que em 2010, o Galpão Cultural teve aprovado inúmeros projetos e obteve reconhecimento federal e estadual para o trabalho que realiza.
COMPROMISSO - Em 2010, o coletivo gestor do Galpão Cultural chegou a conseguir o comprometimento verbal do prefeito Ézio Spera pela continuidade do subsídio, mas que não se confirmou na prática. O grupo ainda espera resposta a um ofício encaminhado ao prefeito naquele mesmo ano solicitando a renovação do convênio que lhe garanta a sede. Outro caminho tentado foi por meio da Fundação Assisense de Cultura (FAC).
Em um primeiro momento, a diretoria da FAC se comprometeu a efetuar o pagamento do aluguel, o que passou pela aprovação de seu Conselho Curador. Lopes conta que, apesar deste compromisso, passado quase um ano nenhum convênio foi firmado e nenhum mês de aluguel foi pago. "Desde o ano passado a FAC vem negociando um valor com a proprietária do imóvel sem se chegar a um acordo", frisa.
O aluguel em questão está avaliado pelo mercado imobiliário em R$ 1,5 mil, sendo que a FAC oferece R$ 1 mil. A sugestão foi que se pagasse R$ 1,6 mil mensais a fim de amortizar a dívida de quase dois anos de aluguel atrasado. Para tanto, explica Lopes, a FAC alega que precisaria de uma complementação de recursos da Prefeitura, a qual lhe foi negada no último dia 15 de março.
O coletivo gestor do Galpão Cultural encaminhou uma carta à imprensa relatando o problema. Neste documento, explica que o fechamento do Galpão Cultural será o fim de um espaço cultural que congrega grupos totalmente diversos em respeito mútuo, dentre os quais o Instituto do Negro Zimbauê, a Associação dos Usuários, Familiares e Amigos da Saúde Mental (Pirassis), e o Circuito de Interação de Redes Sociais (Circus), entre outros grupos culturais.
O fechamento do Galpão Cultural também significa o encerramento de oficinas culturais, além da perda de seu único Ponto de Cultura, convênio com o Ministério da Cultura, uma referência nacional. O Galpão Cultural terá que devolver R$ 60 mil ou mais ao Ministério da Cultura, dinheiro este que não pode ser utilizado para pagamento do aluguel. Além disso, declaram os gestores, um investimento de cerca de R$ 200 mil em mobiliário e em bens adquiridos será menosprezado.
PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO - Lopes e os demais membros do Galpão Cultural lembram que neste acervo estão instrumentos, livros, equipamentos sonoros e de luz, arquivos e filmes adquiridos com recursos federais ou conseguidos por premiações ou via editais não terão onde ser armazenados. A Biblioteca Comunitária também será fechada.
Na carta à imprensa, o grupo lembra ainda que o Complexo Prudenciana e a cidade como um todo perderão mais um espaço cultural aberto e democrático. Cerca de 10 pessoas perderão parte de sua renda gerada através do trabalho ali realizado. Mais de 10 grupos/bandas/conjuntos perderão o local onde têm por hábito ensaiar. Deixará de existir o espaço cultural da cidade que mais articulou eventos nos últimos anos de forma independente.
Durante os seus seis anos de existência, o Galpão Cultural já recebeu prêmios de Ponto de Leitura e Ponto de Cultura, além do edital Loucos pela Diversidade, prêmio Arthur Bispo do Rosário e inúmeras premiações do Programa de Ação Cultural (Proac). Neste tempo também contou com a participação de mais de 20 grupos em sua gestão de caráter coletivo. Tem um fluxo de mais de 100 pessoas semanalmente, chegando a um fluxo de 5.000 pessoas semestralmente ao contabilizar seus eventos.
No documento público é lembrado ainda que o espaço do Galpão Cultural já foi frequentado por mais de 5.000 pessoas; promoveu mais de cinco apresentações internacionais; trouxe a Assis cerca de 50 grupos artístico-culturais nacionais. E que estagiários em cumprimento de créditos em disciplinas universitárias já foram acolhidos pelo Galpão Cultural, bem como pessoas em cumprimento de medidas socioeducativas e grupos que desenvolvem culturas tradicionais reconhecidas como patrimônio cultural brasileiro.