Pai de psicóloga morta em racha fala sobre Justiça negar prisão de motorista: 'Não vai servir de exemplo'
Motorista de 24 anos bateu o carro contra uma clínica dentária no centro de Assis (SP); polícia comprovou embriaguez e pediu a prisão preventiva dele. Pedido foi negado pela Justiça, que adotou medidas cautelares.
O pai da psicóloga Maria Flávia Camoleze, que morreu em um acidente de carro em Assis (SP), disse em entrevista ao G1 que a decisão da Justiça de não prender o rapaz que dirigia o veículo dá margem para que outros casos como esse aconteçam na sociedade.
José Augusto, que é advogado, afirmou que não se surpreendeu, mas viu com preocupação a decisão do juiz ao decretar apenas algumas medidas cautelares para o dentista Murilo Almeida Machado, de 24 anos, indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso.
"Como advogado, para mim não é nenhuma surpresa, mas o fato dele negar a prisão nesse momento é dizer à sociedade que não dá nada, então é muito ruim. Para mim tudo bem, minha filha já foi, não vai voltar, mas isso dá margem para a sociedade entender que a nossa Justiça não faz justiça", desabafa José.
O acidente aconteceu na madrugada do dia 1º de maio e, segundo as investigações, Murilo estava embriagado e participava de um racha por quase 1 km antes de perder o controle do carro e bater contra uma clínica dentária na Avenida Rui Barbosa.
Maria Flávia estava no banco de passageiro do veículo e não resistiu aos ferimentos. Já Murilo foi socorrido e chegou a ser preso em flagrante por apresentar sinais de embriaguez, mas foi liberado após pagamento de fiança no valor de R$7,7 mil.
Durante as investigações, a Polícia Civil confirmou que o dentista ingeriu bebida alcoólica em três estabelecimentos antes de dirigir. Imagens de circuito de segurança mostram Murilo em um bar antes do acidente. (Veja no vídeo acima).
"Quando eu fiquei sabendo que minha filha tinha falecido, achei que era um acidente de trânsito, mas depois vi que foi um crime de trânsito, depois um crime bárbaro de trânsito", comenta o pai, que ficou sabendo da morte da filha algumas horas depois da batida.
"Eu recebi a notícia às 5h. Uma amiga dela bateu na porta, eu fui atender. A polícia já estava atrás convocando a gente pra ir na delegacia, que na realidade era pra ir lá reconhecer o corpo dela. Mas enfim, eu sou advogado, respeito muito a decisão da Justiça, sou uma pessoa de fé. É difícil, mas a vida precisa seguir."
A Justiça não aceitou o pedido feito pela Polícia Civil e Pelo Ministério Público de prisão preventiva do motorista, mas adotou uma série de medidas cautelares, como:
obrigação de comparecer ao Fórum assim que reaberto, a cada dois meses;
proibição de frequentar bares, casas noturnas e lugares em que há consumo de álcool;
proibição de sair da comarca de Assis por mais de sete dias;
proibição de sair de casa das 22h às 5h;
suspensão do direito de dirigir com a entrega da CNH.
O outro motorista envolvido no racha, que já se apresentou e foi ouvido pela polícia, também não pode mais dirigir e nem sair da cidade.
"Eu gostaria que o que aconteceu com a minha filha ficasse de exemplo para esses jovens que vivem nos 'barzinhos' na madrugada, que bebem e vão dirigir, que servisse para pelo menos evitar que isso volte a acontecer. Mas com essa decisão judicial, eu acho que não vai servir de exemplo nenhum. É mais um caso que a Justiça age de forma contrária ao que a sociedade espera", afirma o pai de Maria Flávia.
Na decisão, o juiz oficiou a Polícia Militar e a prefeitura de Assis para avaliarem o aumento de fiscalização e medidas de educação no trânsito da cidade, especialmente na Avenida Rui Barbosa, local do acidente. O Ministério Público disse que vai recorrer da decisão no TJ.