Mestre Piracaia e a sua Moviola¹ Sonora
Nossa história de amor de hoje será embalada por música caipira
Por Fernando Nascimento
- 01/04/23
- 10:00
- Atualizado há 85 semanas
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Nossa história de amor de hoje será embalada por música caipira. Raiz. E que teve um assisense de coração, como um dos maiores cantores e violeiros do Brasil. Texto adaptado do meu amigo Rodolfo Hansted.
Piracaia. Quem é esse Senhor, violeiro, compositor, cancioneiro e poeta da linguagem repositória do homem do campo e que tem com a viola a relação artesanal mais pura, que ponteia as cordas do pinho solenemente, com as mãos calejados pela lida com a terra?
Piracaia, sem a experiência do aprender escolar, teve a Universidade a seu encalço para compreender e dele aprender, a singularidade da arte popular nas letras de suas músicas. Músicas caipiras que transitam e evoluem nas estruturas da música convencional. Esse entendimento está presente na defesa de tese universitária na dissertação de mestrado brilhantemente apresentado pelo professor Elinaldo Meira do curso de Letras da UNESP de Assis em 2001 com o título "Cordas do Panema: Aspectos Históricos e Literário da Poesia Caipira na Cidade de Assis". Piracaia aparece na base de toda pesquisa realizada pelo autor.
As mais de 300 músicas de sua autoria são fiéis à mais pura raiz, no linguajar do homem do campo: o "Caipira". Podemos dizer, seguramente, que aqui mesmo, entre nós, nesse interior profundo, entre os anos de 1930 e 1998, a arte da Pura Música Raiz Caipira Assisense e Brasileira viveu sobre o mais fértil ciclo Piracaia.
Cantava de pronta memória, viola e voz, apenas músicas autorais. Na varanda de sua casa, depositada em uma cadeira, estava sempre a sua viola ao alcance das mãos de quem ousasse querer tocar. A dupla Jacó e Jacozinho (que também terá um capítulo neste especial), fez sucesso com algumas canções, em co-autoria com Piracaia
Uma vida longa e de uma agilidade jovial, sua companheira de andanças era sua bicicleta.
Um homem simples e de pureza ímpar, com uma fala comedida, mas de extremo brilho quando comentava suas criações musicais, contando os causos que o inspiraram e, principalmente, lembrando de seus companheiros de cantorias.
Nos relatos do livro "Música Caipira Alta Sorocabana", o autor, Luiz Carlos de Barros destaca as apresentações, na década de 60, na Rádio Difusora (logo falaremos dela), em programas ao vivo, com violeiros da região. Fala, também, da dupla formada com Pingo D'Água, apresentador da rádio, (batizado de Pedro de Fausto Andrade), entre 1976 e 1985.
Respeitado por duplas famosas e influenciador de uma grande parcela de violeiros, era um autêntico representante da música e da literatura caipira brasileira.
Recebeu em 16 de fevereiro de 1998, da Câmara Municipal de Assis, o título de Cidadão Assisense.
No ano 1999, a dupla Pena Branca e Xavantinho, se apresentou no Teatro Padre Enzo Ticinelli (que terá um capítulo em nosso especial), e falaram sobre o "Mestre Piracaia". Evidenciaram sua importância fundamental para a música raiz e caipira brasileira e profetizaram: "Assis, terá que homenagear essa personalidade, como algo realmente muito significativo para a cultura da cidade de Assis".
O Cinema, nas suas infinitas narrativas, conta histórias da humanidade em 24 quadros. Uma Viola contém 21 quadros representados pelos trastes que definem suas notas e neles, cordas e mãos de um violeiro, contam e cantam as histórias da nossa gente, nossa cidade, estado e nação, na breve existência de uma música. Isso é memória na mais alta significância cultural a quem Assis, soube honrar o Mestre Piracaia, eternizado no "Cine Municipal Piracaia". Este, será um capítulo à parte por aqui.
Segundo Aristóteles, a grandeza não está em receber homenagem, mas em merecê-la.
Benedito Ferreira de Paula, Mestre Piracaia, nasceu em Bragança Paulista em 31 de dezembro de 1907. Mudou-se ainda jovem para Piracaia, de onde vem seu apelido. Em 1930, desembarcou em Assis, onde morou pelo resto de sua vida, e onde faleceu, em 02 de setembro de 1998, aos 91 anos.