Lar dos Velhos de Assis: Lar, Doce Lar
Nosso capítulo de hoje falará sobre mais um lugar especial de nossa cidade. O Lar dos velhos. Você vai entender a importância deste lugar, e entender que lá não se trata de um "depósito de velhos esperando a morte"
Fernando Nascimento
- 19/04/23
- 09:00
- Atualizado há 83 semanas
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Nosso capítulo de hoje falará sobre mais um lugar especial de nossa cidade. O Lar dos velhos. Você vai entender a importância deste lugar, e entender que lá não se trata de um "depósito de velhos esperando a morte". Mas, antes, vamos conhecer um pouco sobre a história dos asilos, em nosso país.
São Vicente de Paulo seguiu a vocação cristã ao cuidar de viúvas, pobres e desvalidos em geral. No Brasil o primeiro registro de um asilo é de 1794 quando, no Rio de Janeiro/RJ, surge a "Casa dos Inválidos", não como ação de caridade, mas como reconhecimento àqueles que prestaram serviço à pátria (notadamente os membros das forças armadas que lutaram em guerras e revoltas). Em 1890, também no Rio de Janeiro/RJ, surgia o "Asilo São Luiz", destinado à velhice desamparada. Nessa época ainda não existiam instituições específicas para idosos. Estes eram abrigados em asilos de mendicidade, junto com outros pobres, doentes mentais, crianças abandonadas e desempregados.
Nessa época a SSVP - Sociedade de São Vicente de Paulo já chegara ao Brasil pouco antes, em 1872. Do trabalho nos antigos asilos e dos vicentinos há um ponto em comum: a caridade pura. Até 1988, enquanto não havia regras bem definidas, portanto, com a ausência de definições de políticas públicas, os vicentinos e religiosos abrigavam e cuidavam das pessoas que da caridade necessitassem, de forma
"amadora". Um dos motivos que tornaram a SSVP a detentora do maior número de lares de idosos do Brasil, com cerca de 600 unidades. Com a Constituição Federal, a caridade pura torna-se assistência social e um dever do Estado, e a quem dela necessitar.
A Sociedade São Vicente de Paulo Lar dos Velhos de Assis, obra unida à SSVP, chamada simplesmente de Lar dos Velhos, foi fundada em 31/08/1959, e é uma associação civil, filantrópica e sem fins lucrativos, que funciona como ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos). Os vicentinos ganharam o terreno, e construíram casas de madeira para abrigar os idosos, fornecendo, inclusive, alimentação, feita em sua cozinha.
A obra cresceu e hoje, atende 76 pessoas com 60 anos ou mais, em vulnerabilidade e/ou risco social e pessoal, na área de assistência social, quando esgotadas as possibilidades de auto sustento e convívio com os familiares. Possui 50 funcionários e, em sua diretoria, 12 membros voluntários.
Como entidade de caridade, recebe doações da comunidade de Assis e região, e verbas municipais e estaduais. Mantém um bazar, com venda de roupas, móveis, eletrodomésticos e outros itens, a preços acessíveis, para ajudar tanto nos trabalhos, quanto à população.
Os serviços são prestados de forma gratuita, continuada e planejada e, com base no Estatuto do Idoso (Lei 14.423/2022), é possível a participação da pessoa idosa no custeio da entidade, com 70% de sua aposentadoria ou renda mensal. Também realiza diversas campanhas, eventos e telemarketing.
No local, além das casas onde os idosos moram, há um refeitório, espaços de convivência e para a realização de cultos e missas, uma ampla área aberta, onde os moradores realizam caminhadas todas as manhãs. O orquidário e o viveiro de aves são outros espaços onde podem eles admirar a natureza e experimentar melhorias emocionais, especialmente para os que sofrem de Alzheimer.
Maria Cristina Bermejo Pinto, administradora e tesoureira, e Caroline Esperança Rodrigues Novais, assistente social da casa, nos relataram que são muitas as atividades realizadas. Um verdadeiro resgate da memória, onde a psicóloga organiza rodas de conversas e atividades com músicas, desenho e pintura. Todas as datas comemorativas são lembradas, e os aniversariantes do mês são lembrados. Semanalmente os idosos fazem passeios à Unesp e recebem a visita do pessoal do Agita Assis. Também visitam o Ecolago, nos meses de verão, o shopping e outros locais da cidade. Não podemos deixar de falar das campanhas de vacinação, atividades de cidadania, como biometria e renovação de documentos, além de fisioterapia e outros acompanhamentos médicos. Há também atividades de embelezamento e intercâmbios geracionais, com visitas a escolas e visitas de escolas, no Lar. Muitos reencontros aconteceram no local, e até casamento entre moradores já saiu por ali.
As visitas ocorrem diariamente das 14h30min às 16h30min, e podem ser feitas por qualquer pessoa, não apenas familiares dos idosos. Vale a pena conhecer, e ouvir as muitas histórias de vida (e de amor) dos moradores. Sua ajuda também é muito importante para que a casa continue aberta e espalhando amor, como faz há quase 64 anos
Terminamos o capítulo de hoje com um agradecimento da diretoria à toda a população da região, que não mede esforços para ajudar o Lar, e também com um texto, de 2021, da escritora (e moradora) Marisa Zanirato. Que resume exatamente o que é o Lar dos Velhos de Assis.
"O que é um asilo? Confesso que não sei.
Só imagino um depósito de velhos cuja única distração consiste em contar os dias que os
separam da morte. Por essa razão vou falar de assuntos mais
interessantes. Vou falar de um lugar onde existem faisões, pavões, galos,
galinhas e ... Orquídeas! Um lugar onde as pessoas desenham, escrevem,
brincam, fazem exercícios físicos e mentais.
Falo aqui do Lar dos Velhos de Assis/SP, uma instituição de abrigo aos idosos que não tem nada a ver com a ideia do senso comum do que seja um asilo.
Aqui há também uma rotina: 05 refeições durante o dia, banho pela manhã, 8 a 9 horas de sono. Enquanto escrevo, observo aproximadamente 10 pessoas desenhando e também observo é claro - os animais do viveiro de aves. É tudo muito belo e agradável. Todos nós
estamos à sombra de três mangueiras, ouvindo a melodia dos passarinhos que passam por aqui.
Sou uma das 75 pessoas, moradora aqui do Lar dos Velhos. Além de nós há enfermeiras, enfermeiros, auxiliares de limpeza, cozinheiras, psicóloga, fisioterapeutas e pessoal da administração, serviço social, cabeleireira e manicure. Todo esse pessoal contribui para o
funcionamento harmonioso e eficiente da casa.
Este é o Lar dos Velhos de Assis/SP, do meu ponto de vista: um lugar digno de se tornar um modelo de instituição para idosos. Tenho o privilégio de ser uma moradora de uma casa tão especial."