Kaikan - Quase 70 anos escrevendo a história japonesa em nossa cidade

19/118

Os 125 anos da imigração japonesa no Brasil, que serão completados neste ano, são um marco para o desenvolvimento de nosso país. A cultura oriental, inicialmente trazida pelo navio Kasato Maru, que atracou no porto de Santos em junho de 1908, ajudou, e tem ajudado, a moldar nossa sociedade desde então.

Nossa história de amor contada em 118 capítulos também tem seus toques orientais. As primeiras famílias japonesas se instalaram em Assis no início da década de 1940, dentro do processo de povoamento da Alta Sorocabana. Eles buscavam, principalmente, solos ricos para o cultivo de café e de algodão. Os primeiros japoneses de nossa cidade eram agricultores, comerciantes e prestadores de serviços.

Os anos seguintes, período pós-guerra, exigiram que os imigrantes japoneses se unissem ainda mais, para combater o preconceito, decorrente da participação japonesa no conflito. Nesta nova fase da imigração, um fato relevante era a qualificação profissional dos que aqui chegavam, para atividades além da agricultura.

O ano de 1951 marcou a fundação da Cooperativa Sul Brasil em Assis. Isso colaborou para a chegada de mais de 300 famílias à cidade. Apesar de muitas não permanecerem em solo assisense, manter traços da cultura nipônica e possuir um espaço para convivência entre os conterrâneos já se tornava uma necessidade, para os que aqui ficaram.

Com isso, foi fundada em 1954 a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Assis, mais conhecida como Kaikan. "Kai" quer dizer reunião ou associação, e "kan", prédio. Desta forma, reunir os descendentes e suas famílias para promover, em conjunto, as atividades sociais, esportivas e culturais de seu país passou a ser feito lugar próprio, instalado na Vila Xavier, na Rua Humberto de Campos. "Nirrondin-Kai" (Reunião de Japoneses), nomenclatura alterada, em 1964, para "Nippak Bunka Kiokai", (Associação Nipo-Brasileira).

Atividades culturais, gastronômicas, esportivas, aprofundamento na língua japonesa e, é claro, convivência entre os membros, têm sido algumas das atividades do Kaikan de Assis desde então.

Com o aumento das famílias, o sonho e o desafio de se construir uma sede social maior, começou a surgir entre a comunidade Nikkei, nos anos 80.

A prefeitura fez a doação de um terreno de quase 29 mil metros quadrados para a associação, oficializada pela lei municipal 2.426/86. Tal doação, entretanto, possuía uma contrapartida: se dentro dos prazos estabelecidos (120 dias para o início das obras e 36 meses para sua conclusão), a construção não fosse finalizada, a doação do terreno seria anulada, e as benfeitorias nele existentes seriam revertidas ao município.

Uma característica marcante dos nikkeis mais uma vez se mostrou presente: a união de seus membros. Incansavelmente, toda a colônia japonesa de Assis se juntou para arrecadar fundos e, também, para colocar literalmente "a mão na massa": aos finais de semana e férias, centenas de descendentes, de todas as idades, se reuniam no local para trabalhar na obra. Até as refeições eram feitas coletivamente, ali mesmo. A participação da população assisense, especialmente nos eventos gastronômicos realizados para captar recursos, foi fundamental para que o sonho se tornasse realidade.

Assim, em 18/06/1988, dentro do prazo, e em comemoração aos 80 anos da imigração Japonesa no Brasil, foi inaugurada a nova sede social do Kaikan de Assis, no Parque das Flores. A estrutura conta,com amplo salão social, estacionamento, quadra poliesportiva, quadra de Gateball, campo de futebol, espaço para gincana "Undokai",e outras coisas.

Semanalmente, as mais de 80 famílias japonesas de Assis se reúnem para atividades gastronômicas, karaoke, danças e gincanas, fortalecendo os laços de sua cultura. O espaço também é alugado para eventos externos.

Podermos conviver com uma cultura tão diferente da brasileira é uma experiência enriquecedora. Aliás, definir a cultura brasileira, sem nos aprofundarmos em aspectos científicos ou antropológicos, pode ser um desafio. Afinal, somos um povo de várias raças.

Assis foi privilegiada pela presença japonesa na cidade, com grande contribuição do Kaikan. Uma história de amor de um povo com um país e com uma cidade.

Até amanhã!

Por Fernando de Freitas Nascimento, com base no livro sobre o Kaikan "Centenário da Imigração Japonesa no Brasil - História e Memória", de Luiz Carlos de Barros.