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História de Assis: o sertão do Paranapanema

Por Luiz Carlos de Barros/ Fotos: acervo: Luis Carlos de Barros

  • 01/07/23
  • 07:00
  • Atualizado há 72 semanas

A história que você vai conhecer agora foi escrita e pesquisada pelo historiador Luiz Carlos de Barros que com sua sensibilidade e espírito de partilha, publica toda seu conhecimento em forma de texto no Portal AssisCity, neste dia 1º de julho, para falar um pouco de Assis cidade fraternal que completa 118 anos.

O SERTÃO DO PARANAPANEMA

Mapa do Estado de São Paulo - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Mapa do Estado de São Paulo - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Em meados do século XIX, a última vila da Província de São Paulo era Botucatu. Daí para o oeste paulista, o território era desconhecido ocupado por indígenas.

A região da alta sorocabana era povoada pelo índios da etnia Guarani que se dividiam em três tribos -  Foto acervo Luis Carlos de Barros
A região da alta sorocabana era povoada pelo índios da etnia Guarani que se dividiam em três tribos - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Os primeiros a adentrar a região da Alta Sorocabana foram os bandeirantes, à procura de índios para serem vendidos como escravos, durante os séculos XVII e XVIII. Mas não fixaram residência.

Por volta de 1850, seus únicos habitantes eram os naturais da terra, os índios da etnia Guarani, que eram divididos em três tribos: Caiuás, Xavantes e Caingangs (também conhecidos como Coroados.

Os pioneiros vinham para região com suas famílias em carros de boi, atravessando rios e florestas - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Os pioneiros vinham para região com suas famílias em carros de boi, atravessando rios e florestas - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Os primeiros adventícios vieram de Minas Gerais. No então chamado "Sertão do Paranapanema" destaca-se por essa época, José Theodoro de Souza, mineiro de Pouso Alegre, que, em 1856, deu a conhecer títulos de ocupação de uma vasta gleba, a Fazenda Rio do Peixe ou Boa Esperança do Água Pehy, área limitada pelo rio Paranapanema pelo seu espigão com o rio do Peixe, pelo rio Turvo e pelo rio Figueira, e cujo registro paroquial obtivera na Vila de Botucatu.

Ao longo do itinerário de ocupação aberto nos espigões, José Theodoro de Souza vendeu às vezes, e cedeu, em outras, muitas terras a seus conterrâneos desbravadores mineiros, sendo um deles o Capitão Francisco de Assis Nogueira, que mais tarde, em 1905, se tornaria fundador da cidade de Assis, através de doação de parte de suas terras para a igreja católica.

O povoamento da região atendia a um duplo interesse: o dos grandes posseiros, como José Theodoro, na consolidação das suas posses e na valorização das terras, e o da instancia estatal, que tinha uma política de implantação de patrimônios visando à ocupação dos trechos desabitados do território brasileiro.

Foram fundadas as povoações de São Pedro do Turvo (1851), São José do Rio Novo - Campos Novos do Paranapanema, hoje Campos Novos Paulista (1864), de Conceição de Monte Alegre (1886), de Santa Cruz do Rio Pardo (1870) e de Saltinho do Paranapanema - Platina (1894).

Com a vinda dos primeiros colonizadores, foi muito comum os Kaingangues investirem contra os forasteiros, procurando defender seus domínios. Os conflitos se estenderam por toda a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do XX, ocorrendo batalhas e muitas mortes em meio ao sertão.

Membros da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, no sertão paulista em 1905  - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Membros da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, no sertão paulista em 1905 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Após a década de 60 do século XIX, delineou-se um exigente ambiente técnico onde as informações geotécnicas foram requisitadas para desempenhar papel inédito na ocupação do território paulista. O Sertão do Paranapanema foi, por duas vezes (1886 e 1905), objeto de inventários geofísicos, socioeconômicos e etnográficos, feitos pela CGEESP - Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, compostos por relatos temáticos, mapas e fotos.

A fundação de Assis

Ainda no século XIX, após o extermínio, expulsão ou domesticação dos indígenas, foram chegando novos habitantes. Até o princípio do século 20, neste quadrante do Estado de São Paulo, conhecida como "SERTÃO DO PARANAPANEMA", a fundação de cidades obedecia ao ritmo lento e ao processo piedoso que caracterizou a penetração natural, isto é, não forçada pela marcha do "progresso". Após o desbravamento do extremo "Sertão do Paranapanema" pelo mineiro José Teodoro de Souza, inicia-se a colonização da região.

Gradativamente vários outros habitantes mineiros, a instâncias do pioneiro José Teodoro de Souza, vieram também empreender a penetração e o desbravamento do Sudoeste Paulista, adquirindo de José Teodoro extensas áreas de terra na região ainda de mata virgem. Foi assim que em 1866 o mineiro Capitão Francisco de Assis Nogueira comprou terras no Vale do Paranapanema, se tornando proprietário do então "Patrimônio das Três Barras".

Capitão Francisco de Assis Nogueira, fundador de Assis -  Foto acervo Luis Carlos de Barros
Capitão Francisco de Assis Nogueira, fundador de Assis - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Ali o Capitão implantou sua "Fazenda do Taquaral", para onde ele e sua família só iriam transportar-se, definitivamente, em 1898, na mesma fazenda a que os advindos para a região iriam cognominar de "Patrimônio do Assis".Destaca-se que antigamente o sertanejo fazia uma "promessa" ou "voto" de doar certa porção de terra para "patrimônio" de uma capela, se a divindade ou os santos lhe propiciassem algum bem no momento de aflição.

O certo é que o Capitão Francisco de Assis Nogueira, católico fervoroso, já em 1880 reservara uma área de suas extensas terras, como doação para um Patrimônio e a implantação de uma capela ou igreja, sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus e tendo como orago São Francisco de Assis. A doação, contudo, só veio a legalizar-se em 1905, com o acréscimo de uma porção de terra dedicada à Obra Pia do "Pão de Santo Antônio".

As residências dos pioneiros eram de pau-a-pique, cobertas de sapê
As residências dos pioneiros eram de pau-a-pique, cobertas de sapê

Em 1º de julho de 1905 o capitão Francisco de Assis Nogueira fez a doação registrada na paróquia de São José de Campos Novos do Paranapanema, na décima gleba da divisão da Fazenda Taquaral, comprada de José Teodoro de Souza: "...setenta alqueires de terrenos em matas virgens, para serem demarcados em qualquer lugar na sorte de terras de sua propriedade a margem direita do Rio Paranapanema e no fundo do Rio Pari... para que se pretendia erigir sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus, tendo também como orago Seráphico São Francisco de Assis... por voto...". . As terras foram recebidas pelo padre Paulo de Mayo da freguesia de Campos Novos, a qual o Patrimônio de Assis pertencia.

Fácil é de compreender as razões pelas quais o Patrimônio das Três Barras, passou, sucessivamente, a denominar-se "Patrimônio do Assis" e, depois, ao longo do tempo, simplesmente Assis. Logo uma capela, feita de pau-a-pique e coberta de sapé edificou-se no local. A capela foi o centro da povoação, de vida efêmera, nascida nos primórdios do povoamento, onde ao seu redor surgiram novos casebres e aglomeraram-se os primeiros habitantes pioneiros.

Nessa época em que se desmembrou o Patrimônio, havia uma pequena população nos arredores e tudo era mata virgem cheia de animais selvagens. Alguns dos moradores que iniciaram a civilização local, eram colonizadores que haviam participado de expedições e aqui se fixaram.

Alguns moradores pioneiros de Assis, em 1905 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Alguns moradores pioneiros de Assis, em 1905 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Assis e o início de seu desenvolvimento

Inauguração da Estação Sorocabana de Assis em 1915 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Inauguração da Estação Sorocabana de Assis em 1915 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

O povoamento, a ocupação e início de desenvolvimento da cidade de Assis, assim como de toda região conhecida como "Alta Sorocabana" estiveram estreitamente ligados à expansão da Estrada de Ferro Sorocabana, empreitada feita pelo engenheiro italiano José Giorgi, a partir de 1912, saindo de Salto Grande e chegando a Presidente Epitácio em 1922.

O engenheiro italiano José Giorgi, considerado como grande desbravador da região da Alta Sorocabana, no Oeste Paulista
O engenheiro italiano José Giorgi, considerado como grande desbravador da região da Alta Sorocabana, no Oeste Paulista

Os trilhos da ferrovia chegaram em Assis em 1914, com sua estação sendo inaugurada em 1915, trazendo com eles o primeiro grande impulso para o seu progresso.

A chegada da ferrovia foi um marco no desenvolvimento de Assis, sendo que as oportunidades que esse sistema de transporte e comunicação geravam, trouxeram novos moradores que foram se estabelecendo.

Nessa mesma época, o povoado foi elevado a Distrito de Paz, integrando o Município de Platina da Comarca de Campos Novos do Paranapanema, através da Lei 1.496, de 30 de novembro de 1915.

Os primeiros vereadores e alguns cidadãos assisenses em Sessão Solene da Câmara Municipal de Assis - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Os primeiros vereadores e alguns cidadãos assisenses em Sessão Solene da Câmara Municipal de Assis - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Em 20 de dezembro de 1917 pela Lei n°1581 da Assembleia Estadual de São Paulo, Assis tornou-se município, com território desmembrado de Platina, porém sua instalação só se deu em 20 de março de 1918, mesma data da fundação da Câmara Municipal de Assis. Sua primeira demarcação envolvia mais duas fazendas: a Taquaral e a Fortuna.

Fac-símile do documento de criação do Município de Assis, datado de 20 de dezembro de 1917 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Fac-símile do documento de criação do Município de Assis, datado de 20 de dezembro de 1917 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Na década de 1920 a política em Assis era dominada por dois partidos políticos de nomes folclóricos: o partido do Abacaxi e o do Caju. A movimentação decorrente da chegada da Sorocabana e as primeiras manifestações político administrativas e legislativas fazem deslocar-se de Campos Novos de Paranapanema para Assis a sede da Comarca, que se instala em 15 de março de 1919, sendo o Dr. Vasco Joaquim Smith de Vasconcellos, o 1º Juiz de direito local.

Membros do Forum de Assis em 1920, (destaque) Juiz Dr. Vasco Joaquim Smith de Vasconcellos  - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Membros do Forum de Assis em 1920, (destaque) Juiz Dr. Vasco Joaquim Smith de Vasconcellos - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Ferrovia e Comarca passam a ser polos de atrações para ferroviários e suas famílias, engenheiros, agrimensores, advogados, agricultores, comerciantes, toda a espécie de pioneiros, enfim. O novo vector de desenvolvimento urbano passa a ser a Avenida Rui Barbosa. Moradias, casas comerciais, hotéis, bares vão-se multiplicando principalmente do largo da Igreja para as cercanias da Estação da Sorocabana.

Vista parcial de Assis, ainda sem iluminação pública, em 1920 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Vista parcial de Assis, ainda sem iluminação pública, em 1920 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Assim, logo a cidade ganha novos moradores e conforme a localidade foi se desenvolvendo economicamente, outros grupos de migrantes e imigrantes foram chegando, construindo suas casas e comércios e trabalhando na área rural, destacando principalmente as colônias italianas, japonesas, libanesas e alemãs, ainda muito tradicionais, e com forte influência na cultura local.

Santa Casa de Assis em 1920  - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Santa Casa de Assis em 1920 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

A atitude pioneira no campo da saúde na cidade foi a instalação da Santa Casa de Misericórdia de Assis em 07/12/1919.

Construção do prédio do Bispado de Assis (Palácio Episcopal de Assis
Construção do prédio do Bispado de Assis (Palácio Episcopal de Assis "Santa Terezinha do Menino Jesus", em 1928 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Construção da primeira Igreja Matriz, Catedral de Assis, com mão-de-obra feita através de mutirão - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Construção da primeira Igreja Matriz, Catedral de Assis, com mão-de-obra feita através de mutirão - Foto acervo Luis Carlos de Barros

A construção do Palácio Episcopal para a sede do Bispado em Assis e da Igreja Matriz Catedral, fizeram parte da primeira fase de construções necessárias à instalação da Diocese de Assis.

Desde a chegada da ferrovia em Assis, a cidade viu a partir de então, impulsionado o seu desenvolvimento, através de elevado nível de progresso proporcionado naquela época pelo fator estrada de ferro, aliado à vocação e ao desenvolvimento do setor primário de uma das principais regiões agrícolas do estado, encaminharam o município rumo ao progresso e crescimento. A vida na cidade havia melhorado desde 1920, quando se firmou o primeiro contrato com a empresa José Giorgi de Eletricidade do Vale Paranapanema.

Vista parcial de Assis, já com iluminação pública, em 1922 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Vista parcial de Assis, já com iluminação pública, em 1922 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Em 1930, Assis tornou-se sede de Bispado. O primeiro Ginásio Municipal foi instalado no final dos anos 30, quando firmou-se contrato entre a Prefeitura de Assis e a Sociedade de Educação "Ginásio Paulistano" de São Paulo.

O serviço de abastecimento de água na cidade, que funcionava de maneira precária na década de 30, foi implementado em 1944. A implantação da rede de esgotos sanitários foi iniciada em 1948, e a pavimentação em paralelepípedos da área central da cidade ocorreu no mesmo ano, sendo que mais tarde, no início dos anos 50, foi substituída pelo asfalto. Também na década de 50, iniciaram-se as obras de galerias de águas pluviais e os primeiros telefones automáticos foram inaugurados em 1954.

Vista parcial de Assis, no final da década de 1930 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Vista parcial de Assis, no final da década de 1930 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Vista parcial de Assis, no final da década de 1940 - Foto acervo Luis Carlos de Barros
Vista parcial de Assis, no final da década de 1940 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Vista parcial do centro comercial de Assis, na década de 1950 -  Foto acervo Luis Carlos de Barros
Vista parcial do centro comercial de Assis, na década de 1950 - Foto acervo Luis Carlos de Barros

Em 1958, instalou-se na cidade a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis-FAFIA, que a partir de 1976, com a criação da UNESP, passou a chamar-se Faculdade de Ciências e Letras-Campus de Assis. Entre as décadas de 60 e 70, a antiga Catedral de Assis dava lugar à construção atual.

Em 1972 iniciou-se a construção do Hospital Distrital, atual Hospital Regional de Assis. Ainda nas décadas de 40 a 70, foram construídas importantes rodovias que fazem ligações com a capital e cidades do interior de São Paulo e com os Estados do Mato Grosso do Sul e Paraná.

A Rodovia Raposo Tavares SP-270, foi inaugurada nos anos 50 e modificou o transporte da região. Desde então, o município de Assis, passou a contar com a vinda de vários órgãos e instituições, se fortalecendo, e se tornando sede de Governo e sub-região administrativa regional.

Outro fato, convém enfatizar é que Assis cresceu como um território, cujo destino foi empolgado por seus cidadãos, por suas lideranças naturais e, principalmente, pela coesão de seus habitantes (nativos ou para aqui vindos), sem que se verificassem aqui grandes desníveis entre as várias camadas sociais. Lideranças de várias ordens aqui surgiram nas mais diversas áreas de atividades: religiosas, político-administrativas, judiciárias, econômicas, associativas, beneficentes, educacionais, etc.

Além de estar numa das principais regiões agrícolas do estado de São Paulo, Assis se fortaleceu ao longo do tempo, se constituindo hoje num importante Pólo regional, em especial nos segmentos agronegócios, de comércio e prestação de serviços, saúde, educação, tendo ainda um forte potencial para o turismo.

Vista aérea parcial de Assis (centro) -  Foto acervo Luis Carlos de Barros
Vista aérea parcial de Assis (centro) - Foto acervo Luis Carlos de Barros

O município de Assis/SP está localizado na região oeste do Estado de São Paulo, distante da Capital Paulista, 555 Km por via rodoviária e 548 Km, por via ferroviária. O prefeito de Assis é José Aparecido Fernandes tendo como vice-prefeito, Aref Sabeh, sendo a Câmara Municipal de Assis composta por 15 vereadores. Apresentando estratégica localização geográfica, Assis ocupa uma área de 474 Km2 e ao completar seus 118 anos possui um total de 101.409 pessoas segundo o senso do IBGE 2022.

Assis integra e é sede do CIVAP - Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema, que atualmente representa 47 municípios, onde os mesmos atuam conjuntamente em projetos e ações, provendo uma maior eficácia em assuntos regionais sustentáveis e de integração dos mesmos, na busca de soluções globalizadas e na participação de forças vivas da sociedade regional, estadual e federal, atuando em diversas áreas.

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