Funcionários do Hospital Regional de Assis denunciam aumento no número de óbitos na instituição
Denúncias foram feitas ao Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde-SP) e divulgados nesta quinta-feira, dia 2
Redação AssisCity
- 02/05/24
- 15:00
- Atualizado há 29 semanas
Durante o feriado do Dia do Trabalhador, comemorado nesta quarta-feira, dia 1º de maio, o Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde-SP) emitiu uma nota à imprensa que dezenas de profissionais que atuam no Hospital Regional de Assis (HRA) denunciam que, desde que o governo do estado anunciou a ampliação do número de leitos, em agosto do ano passado, sem que houvesse a contratação de mais profissionais para compor o quadro funcional, houve um aumento de óbitos no Hospital.
Segundo os dados divulgados na nota, o número de mortes saltou de 49, em janeiro e fevereiro de 2023 para 65, se levado em consideração o mesmo período em 2024. As informações são do Sistema de Informações do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). O número de óbitos registrados em 2024 é ainda mais alarmante quando comparado com os de 2022, quando foram registrados 37 óbitos nos mesmos dois meses do ano. Ou seja: em janeiro e fevereiro de 2022 foram registrados quase metade do número registrado no início deste ano.
De acordo com as informações do Ministério da Saúde, apenas em 2021, ano que estávamos em plena pandemia de Covid-19 e ainda sem cobertura vacinal, foram registrados 69 óbitos no HRA - número muito próximo do registro atual. Os profissionais, que pediram para não serem identificados por medo de sofrerem represálias, denunciaram também que o número de trabalhadores é insuficiente para atender aos leitos que estão em funcionamento e para a quantidade de cirurgias que estão sendo realizadas na unidade.
"De acordo com as informações que recebemos dos trabalhadores, o hospital está operando sem a quantidade de profissionais que é estabelecida pelo Ministério da Saúde e pelas resoluções dos conselhos de cada categoria para os cuidados de cada tipo de leito", relatou Gervásio Foganholi, secretário de Administração e Finanças do SindSaúde-SP.
O Hospital Regional de Assis sempre foi referência em atendimento secundário e terciário para a população de 25 cidades que integram a região de Assis e Ourinhos, com uma abrangência de mais de 500 mil habitantes. A qualidade da assistência e o atendimento humanizado sempre foram destaque, o que foi comprovado pelos bons resultados obtidos e demonstrados por meio dos indicadores de avaliação da própria Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Para os trabalhadores, é muito triste ver um equipamento de saúde que eles tanto se dedicaram a chegar a esse ponto. Eles avaliam que a falta de concurso público para repor o quadro funcional e a irresponsabilidade da atual gestão foram fatores que agravaram ainda mais a situação.
No texto divulgado, os funcionários denunciam ao SindSaúde o que eles acreditam ter contribuído para o aumento no número de óbitos na instituição. Confira o trecho na íntegra:
"De acordo com os profissionais, outro fator que ocasionou o aumento desses óbitos foi à aquisição de um grampeador cirúrgico, comprado diferente da descrição na licitação e de qualidade inferior. "Com o uso deste equipamento os pacientes apresentaram fístulas entéricas no pós-operatório, agravando sua condição clínica, com infecção generalizada e, consequentemente, sete óbitos em curto período de tempo", delatou um trabalhador que está indignado com a situação.
Outra questão grave é que os profissionais acreditam que os dados no último período podem ser muito maiores e suspeitam que podem estar sendo maquiados, pois constataram casos de saídas de pacientes sendo lançados como "alta sem segmento" no sistema e não como óbitos.
Assédios
Ao sindicato, os funcionários também reclamaram que se sentem intimidados, assediados e perseguidos pela administração do Hospital. "Há relatos de vários servidores que foram assediados em reuniões com toda a gestão e sem oportunidade de defesa, todavia, tais funcionários ficaram emocionalmente abalados que não quiseram sequer apresentar queixas ao sindicato à época. Contrariando as estatísticas, uma funcionária resolveu denunciar um desses assédios por parte de um dos diretores e, com auxilio jurídico do sindicato, apresentou manifestação ao Ministério Público e ao Conselho de sua categoria", divulgou em nota o sindicato.
Falta de Insumos
Ainda segundo o divulgado pelo SindSaúde, os profissionais também denunciam que determinadas atitudes da administração desorganizaram os estoques e da falta de medicamentos e antibióticos, até os mais básicos, como dipirona e bromoprida. "Há relatos que as equipes técnicas estavam sendo cada vez mais pressionadas a fazer internações, principalmente para cirurgias, sem levar em conta as reais condições do hospital e os resultados destas. As internações estão ocorrendo dentro do pronto-socorro referenciado e na clínica de obstetrícia de alto risco, misturando pacientes clínicos com cirúrgicos, cirurgias limpas com infectadas, puérperas e seus filhos com pacientes com outras moléstias", diz o comunicado.
Conflito de Interesses
Em um trecho, o sindicato faz alusão a um possível conflito de interesses na administração do Hospital Regional, confira na íntegra:
"A gravidade das denúncias não param por aí, como se não bastassem essas complicações já citadas acima, com a mudança da administração, os profissionais também denunciam que ocorreu uma mistura de gestão pública com a privada.
A atual diretora do Hospital Regional de Assis, Telma Gonçalves Carneiro Spera de Andrade, foi provedora da Santa Casa de Misericórdia de Assis (equipamento de saúde que fica do outro lado da praça em frente ao HRA), e continuou até pouco tempo por trás do serviço privado se intitulando "superintendente voluntária", exercendo posição de comando nas duas unidades.
Os trabalhadores também afirmam que dois de seus assistentes diretos exercem, atualmente, cargo de coordenação tanto no Hospital Regional de Assis quanto nas duas unidades da Santa Casa de Misericórdia. Ambos, além de outros funcionários da Santa Casa, transitam livremente nas duas unidades, não respeitando seus horários de trabalho em ambos locais, o que poderia ser considerado um conflito de interesses, desrespeitando o que é definido pela legislação"
O que dizem os citados
Às 10h49 da manhã desta quinta-feira, o Portal AssisCity entrou em contato com Telma Spera, diretora do Hospital Regional e citada no texto do SindSaúde e ela esclareceu que "todas as informações devem ser solicitadas à assessoria de imprensa do Estado. O Hospital Regional de Assis, com base na seriedade, transparência, integridade e compromisso com a saúde da população de 25 municípios com os quais trabalha, 62 em duas especialidades, e com o zelo pelos 711 funcionários que aqui trabalham, emitiu esclarecimento refutando com veemência todas as informações inverossímeis à assessoria de imprensa do ESTADO, que atenderá todas as solicitações dos diferentes meios de comunicação".
O Portal AssisCity também tentou contato com a Secretaria Estadual de Saúde, às 11h21, para comentar e contestar as acusações. Uma nota oficial foi encaminhada à nossa reportagem às 19h24. Confira na íntegra:
"O Hospital Regional de Assis (HRA) informa que o número de óbitos entre 2023 e 2024 aumentou devido ao crescente número de pacientes atendidos no período e à gravidade dos quadros clínicos apresentados. No primeiro trimestre deste ano, o HRA atendeu 5.299 pacientes e registrou 70 óbitos. No mesmo período do ano passado, 4.447 pacientes foram atendidos e 54 óbitos foram registrados. Em fevereiro deste ano, a taxa de ocupação operacional da unidade era de 77,12%,enquanto que no mesmo período de 2023, era de 67,58%.
A unidade realiza o atendimento da população de 25 municípios, sendo que, para as especialidades de obstetrícia de alto risco e psiquiatria, atende a 62 municípios. Atualmente, o HRA conta com 711 funcionários e obedece a parâmetros legais de condições de trabalho, utilizando-se dos plantões extras, e disponibilizando-os aos interessados, que arbitrariamente fazem a opção de atender ou não. Não há qualquer tipo de coação em relação à carga horária, apenas um direcionamento para o cumprimento legal das horas de trabalho, fundamentado em princípios de ética e respeito.
Não há falta de qualquer insumo ou medicamento. Os materiais e fármacos são organizados e devidamente controlados. O aumento desta demanda se deve à elevação da taxa de ocupação da unidade. Quando ocorre desabastecimento de algum item, imediatamente são tomadas medidas internas para o abastecimento dos insumos.
A instituição está à disposição das autoridades competentes para quaisquer esclarecimentos."
*Essa matéria foi atualizada às 10h56 do dia 03/05/2024 para incluir a nota oficial da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.*