Casa de Taipa: uma história de amor iniciada há quase 110 anos

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Nosso capítulo de hoje retratará uma história de amor de amor tão longeva quanto a própria cidade. E que, nos dias atuais, ajuda a manter vivas as raízes de nossa fundação.

Voltemos ao longínquo ano de 1914, quando aqui desembarcaram, vindos de Casa Branca, o Capitão José de Freitas Garcez, acompanhado de sua esposa, Maria da Glória Garcez, e de seus dois filhos, João e Pedro Garcez. O ano também marcou a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana à cidade, assunto (alerta de spoiler) de amanhã, outro capítulo sensacional de nossa história.

Capitão Garcez adquiriu uma propriedade, que se chamaria "Chácara dos Garcez", e iniciou a construção de uma casa, usando uma técnica comum na época, herança do período colonial, chamada de Taipa. As matérias-primas eram barro e madeira. Ainda hoje,tal técnica é bastante utilizada, principalmente no sertão nordestino.

A edificação foi feita sobre esteios, acima do chão, para evitar a entrada de animais peçonhentos. Instalados os barrotes, que eram varas finas, amarradas com cipós e entrecruzadas, os trabalhadores fizeram a aplicação da massa.

Em seu livro, utilizado pas as informações do texto de hoje, o historiador Luiz Carlos de Barros relata duas peculiaridades da massa de barro utilizada. A primeira, sua fabricação, onde mulheres e crianças, descalços, pisavam e amassavam a mistura de barro, esterco de boi e cinzas, até dar a liga desejada. A segunda, sua aplicação, que deveria ser feita ao mesmo tempo, por dentro e por fora, para que o formato das paredes ficasse correto. Trabalho que exigia muita habilidade dos construtores.

A cobertura da casa de 77 m², com cinco cômodos, sendo duas salas e três quartos interligados, foi feita com telhas de barro. Seu interior foi ornamentado com um sofisticado tipo de forro utilizado na época, chamado de "Saia e Blusa". A cozinha foi construída do lado de fora, assim como um poço de água, forno a lenha e banheiro, em forma de fossa séptica. No terreno da casa, cercado de balaústres, existia uma criação de galinhas,uma horta e um jardim.

Na propriedade inteira foram plantados milhares de jabuticabeiras, algumas existentes até hoje. O local também servia de pouso para tropeiros que passavam pela região.

Em 1915, Assis foi elevada a Distrito de Paz, e a casa passou a abrigar o cartório, cujo escrivão era o próprio Capitão Garcez. Registros de nascimento, casamento, óbito e todos os serviços notariais da época, foram feitos ali, durante muitos anos.

Após a morte de seus pais, na década de 1960, o herdeiro, João de Freitas Garcez, vendeu a propriedade a seu sobrinho, Floriano de Oliveira Garcez.

Em 27 de junho de 1968, Monsenhor Floriano, com a condição de que a casa abrigasse a Sociedade de Estudos do Paranapanema, enquanto ela existisse, fez a doação do espaço, para instalação do Museu Histórico Regional e para abrigar estudos e pesquisas sobre nossa região. Diversos objetos foram doados pela comunidade, para o acervo do museu.

Tal sociedade foi desativada e, posteriormente, em 1999, foi feita a doação definitiva para da Casa de Taipa para o município. Algumas parcerias com a UNESP de Assis, entre outras entidades, permitiram o funcionamento por mais algum período. Após isso, o local ficou fechado, sujeito à deterioração, por muitos anos.

Em 2017, com recursos da Secretaria de Municipal Cultura, a Prefeitura revitalizou e restaurou o espaço e reinaugurou o Museu Histórico de Assis Casa de Taipa. O acervo conta com documentos, livros, fotos, mobiliário, roupas, utensílios, ferramentas e outros objetos, e está aberto para a visitação de toda a população. Também recebe reuniões e eventos culturais e beneficentes. Ainda conta com o anexo "José Giorgi", construído no final dos anos 90.

Parte significativa da memória assisense pode ser encontrada na Casa de Taipa. Podemos dizer que, conhecer o lugar, deve ser uma verdadeira obrigação para todos que amam Assis. Suas paredes de taipa guardam muitas histórias de amor centenárias. Vale a visita.

Nos vemos amanhã, para uma volta ao passado, nos trilhos da EFS/FEPASA