'Voa Liberdade' - Um ano sem Carla Regina Vieira
COLUNISTA - Sergio Vieira
Voa Liberdade
(Jessé)
Voa, voa minha liberdade
Entra se eu servir como morada
Deixa eu voar na sua altura
Agarrado na cintura
Da eterna namorada
Voa, feito um sonho desvairado
Desses que a gente sonha acordado
Voa, coração esvoaçante
Feito um pássaro gigante
Contra os ventos do pecado
Voa, nas manhãs ensolaradas
Entra, faz verdade essa ilusão
Voa, no estalo do meu grito
Quero ver teu infinito
Nesse azul sem dimensão
É estranho. Tudo passa rápido demais. Parece mentira que hoje faz um ano que a Carla morreu vítima de Covid-19. Os fatos aconteceram tão rápido que não deram tempo de uma reflexão mais apurada. Da data que ela sentiu os primeiros sintomas (05.01.2021) até a internação dela (10 de janeiro), e depois todo o sofrimento (dela e da família) pelas notícias que sempre viam permeadas de informações nada boas, e finalmente, quando às 13 horas desse dia, há um ano, quando tocou o telefone e me pediram que fosse até a Santa Casa que a médica da UTI queria falar comigo, tudo aconteceu muito rápido, e ao mesmo tempo, parecia sem fim.
A Carla faleceu há um ano, às 12h10 do dia 10 de fevereiro, na UTI da Santa Casa, vítima de uma parada cardíaca, característico de pacientes que possuem Covid-19. Até hoje, eu, meus filhos (Victor e Renan), familiares e amigos imaginam que toda esta situação é mentira. E que ela não morreu. A sensação é que ela está viajando e a qualquer hora, abre o portão, e entra para o interior de casa. Não conseguimos mais vê-la. Não houve velório e o sepultamento aconteceu apenas com oito pessoas da família.
O luto da Covid-19 não é linear, e sim, de altos e baixos. Às vezes, você está conformado, outras vezes, está muito triste. Isso acontece porque não há velório, você não vê a pessoa. O luto exige uma despedida, e as vítimas de Covid não têm essa despedida. Simplesmente, são colocadas em um saco preto, lacrado, assim como a urna funerária. Acredito, piamente, que o número de mortos de Covid-19 no Brasil é maior tragédia desse país. Não houve nenhum conflito armado ou tragédia que morreram tantas pessoas.
A dor minha, dos meus filhos, parentes e amigos é semelhante a de outras milhares de famílias que perderam entes queridos vítimas da Covid-19. A sensação é que esse ente querido não morreu. Está vivo e a qualquer hora volta. No meu caso particular, a sensação é que ela está sempre ao meu lado, me acompanhando em todos os momentos. Evito falar, mas, é perceptível a dor dos meus filhos. Isso está cristalizado em seus olhos, em suas faces. Afinal, perder alguém que cuidava tão bem de nós e nos tratava da melhor forma possível, não é fácil.
Mas, fica a saudade, o carinho. Enfim, a esperança do reencontro. Quem é cristão, acredita na vida eterna, e tenho certeza que em algum momento vamos nos reencontrar. Afinal, a morte é apenas uma passagem. Para o bem e para o mal. A minha maior esperança são as próprias palavras de Jesus Cristo quando atendeu aos pedidos do bom ladrão de que não se esquece dele no paraíso. Jesus respondeu que ainda hoje estará comigo no Paraíso. Isso é o que me conforta. Assim, como ela está em um lugar maravilhoso, onde não há sofrimentos ou dores. Todos aqueles que herdaram o paraíso celestial vivem uma alegria plena sem fim.
Enquanto isso, vamos tocando a vida aqui. Tentando entender os mistérios divinos, coisa que jamais conseguiremos entender.