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'Voa Liberdade' - Um ano sem Carla Regina Vieira

COLUNISTA - Sergio Vieira

Sérgio Vieira

  • 10/02/22
  • 08:00
  • Atualizado há 145 semanas

Voa Liberdade

(Jessé)

Voa, voa minha liberdade

Entra se eu servir como morada

Deixa eu voar na sua altura

Agarrado na cintura

Da eterna namorada

Voa, feito um sonho desvairado

Desses que a gente sonha acordado

Voa, coração esvoaçante

Feito um pássaro gigante

Contra os ventos do pecado

Voa, nas manhãs ensolaradas

Entra, faz verdade essa ilusão

Voa, no estalo do meu grito

Quero ver teu infinito

Nesse azul sem dimensão

É estranho. Tudo passa rápido demais. Parece mentira que hoje faz um ano que a Carla morreu vítima de Covid-19. Os fatos aconteceram tão rápido que não deram tempo de uma reflexão mais apurada. Da data que ela sentiu os primeiros sintomas (05.01.2021) até a internação dela (10 de janeiro), e depois todo o sofrimento (dela e da família) pelas notícias que sempre viam permeadas de informações nada boas, e finalmente, quando às 13 horas desse dia, há um ano, quando tocou o telefone e me pediram que fosse até a Santa Casa que a médica da UTI queria falar comigo, tudo aconteceu muito rápido, e ao mesmo tempo, parecia sem fim.

Divulgação - Carla Regina Vieira, 55 anos - Foto: Divulgação
Carla Regina Vieira, 55 anos - Foto: Divulgação

A Carla faleceu há um ano, às 12h10 do dia 10 de fevereiro, na UTI da Santa Casa, vítima de uma parada cardíaca, característico de pacientes que possuem Covid-19. Até hoje, eu, meus filhos (Victor e Renan), familiares e amigos imaginam que toda esta situação é mentira. E que ela não morreu. A sensação é que ela está viajando e a qualquer hora, abre o portão, e entra para o interior de casa. Não conseguimos mais vê-la. Não houve velório e o sepultamento aconteceu apenas com oito pessoas da família.

O luto da Covid-19 não é linear, e sim, de altos e baixos. Às vezes, você está conformado, outras vezes, está muito triste. Isso acontece porque não há velório, você não vê a pessoa. O luto exige uma despedida, e as vítimas de Covid não têm essa despedida. Simplesmente, são colocadas em um saco preto, lacrado, assim como a urna funerária. Acredito, piamente, que o número de mortos de Covid-19 no Brasil é maior tragédia desse país. Não houve nenhum conflito armado ou tragédia que morreram tantas pessoas.

Divulgação - Família de Carla Regina Vieira e Sergio Vieira - Foto: Divulgação
Família de Carla Regina Vieira e Sergio Vieira - Foto: Divulgação

A dor minha, dos meus filhos, parentes e amigos é semelhante a de outras milhares de famílias que perderam entes queridos vítimas da Covid-19. A sensação é que esse ente querido não morreu. Está vivo e a qualquer hora volta. No meu caso particular, a sensação é que ela está sempre ao meu lado, me acompanhando em todos os momentos. Evito falar, mas, é perceptível a dor dos meus filhos. Isso está cristalizado em seus olhos, em suas faces. Afinal, perder alguém que cuidava tão bem de nós e nos tratava da melhor forma possível, não é fácil.

Mas, fica a saudade, o carinho. Enfim, a esperança do reencontro. Quem é cristão, acredita na vida eterna, e tenho certeza que em algum momento vamos nos reencontrar. Afinal, a morte é apenas uma passagem. Para o bem e para o mal. A minha maior esperança são as próprias palavras de Jesus Cristo quando atendeu aos pedidos do bom ladrão de que não se esquece dele no paraíso. Jesus respondeu que ainda hoje estará comigo no Paraíso. Isso é o que me conforta. Assim, como ela está em um lugar maravilhoso, onde não há sofrimentos ou dores. Todos aqueles que herdaram o paraíso celestial vivem uma alegria plena sem fim.

Enquanto isso, vamos tocando a vida aqui. Tentando entender os mistérios divinos, coisa que jamais conseguiremos entender.

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