Vida marvada. Dizia Rolando Boldrin ao contar sobre o caminho de um sertanejo em uma de suas histórias, que virou uma das minhas preferidas canções. Lá, entre versos e rimas, o autor diz dos percalços e calços dessa existência.
Aqui, a esposa grávida passou mal. Casados há menos de um ano aqueles dois pareciam crianças que se olharam pela primeira vez. Esperavam uma menina, que viria a esse mundo para mostrar-lhes a razão. O caminho dele ficou estreito, escuro, triste. Sua esposa se foi, junto com sua filha. Um abraço sincero de pesar sei que não o confortou.
E depois, a notícia de um acidente que matou um jovem de 29 anos, lá para as bandas de outro estado, me trouxe lembranças de quando eu ainda não entendia o tamanho dessa angústia que senti. Crescemos nos mesmos caminhos, ainda na rua por asfaltar na vila Adileta. Fomos contemporâneos na escola do bairro. Já subimos e descemos muitas vezes juntos a Tamandaré, carregando uma bola de capotão e um sorriso do tamanho de nosso futuro. Ele se foi cedo demais.
E quando a garota, menor de idade, foi morta por um tiro; o menino, que andava de bicicleta naquela via, como sempre fez, foi atropelado e agora não sabe quando vai voltar; e as tragédias em outros tantos cantos, crianças mortas de fome; partidas e doenças inesperadas de entes que são a nossa base...
Isso aqui, que vivemos agora, não é pra qualquer um. Tem que ter muita fé e coragem.
"E assim vou tocando essa vida marvada...".
Kallil Dib
Jornalista