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Um retrato envernizado e um muro demolido

Kallil Dib

  • 20/01/12
  • 10:00
  • Atualizado há 677 semanas

*Kallil Dib

O muro caiu, o esquecimento também, junto com o garoto, que Deus o tenha. Mas de quem é a culpa? Se é que podemos pensar em culpa. Estou falando do caso que abalou quem quer que tenha uma essência humanitária.

A história não foi muito bem esclarecida, os fatos não foram exatamente descritos como deveriam, a revolta prevaleceu, e o que ficou foi apenas um retrato numa linda moldura envernizada.

Para quem não se lembra, foi numa peripécia de menino, que todos julgaram ser normal, que tudo aconteceu. Na manhã habitual, depois da prova de geografia, um grupo de amigos resolveu dar um pulo na aula de educação física da outra turma, literalmente.Os portões que davam acesso a quadra poliesportiva da escola estadual estavam trancados, como sempre ficaram, e como deveriam sim ficar, e se estavam fechados era por alguma razão.

A solução encontrada pelos jovens foi pular o portão, ato costumeiro e que se passa por gerações naquela escola, como em qualquer outro colégio onde tenham jovens rebelados e instruídos por essa sociedade, que acha tudo natural.

A escola é antiga, o prédio também, e há tempos que alguns pontos dali precisam de uma reforma. Inclusive o muro, que sustentava justamente o portão que seria escalado pelos garotões do ensino médio. E o final dessa história já se sabe: nem todos passaram para o outro lado e a aula de educação física, acabou. O muro, ancestral e vacilante, não aguentou e desabou, junto com um dos adolescentes, que faleceu.

No mesmo dia começaram as especulações. Pessoas foram acusadas, protestos feitos, besteiras faladas, tudo com a emoção, antes da razão, se é que a razão existe. Mas se não existe, alguns pontos importantes e que passaram em branco devem ser analisados e discutidos por quem ao menos se interessa por veracidades. E já que aqueles que clamaram justiça e se sentiram tão poderosos a ponto de julgar e apontar culpados e degenerados, "esqueceram-se" do assunto, é relevante lembrar-lhes.

Não existe culpa. É inútil falarmos em algum responsável por uma tragédia desse nível. Apenas podemos pensar em determinadas consequências que levaram tudo isso a acontecer: não é exagero falar que burlar o sistema imposto pela escola, pulando o portão, não se aprende dentro da sala de aula, muito menos afirmar que isso se passa sim pela educação, e não a educação escolar.

Ouvi, na época, que a escola é a principal culpada. Não, não é. Se falarmos da escola, vamos nos referir ao estado, e a estrutura da educação no estado de São Paulo... Bom, produziria um livro.

Os jornalistas não puderam ter acesso às informações necessárias e às evidências concretas para afirmarem o que realmente aconteceu, portanto, tudo foi relatado com base nos depoimentos de amigos emocionados da vítima e diretores revoltados, e ao mesmo tempo assustados, do colégio. O que é verdade?

Apenas que as lembranças ficaram, os dias passaram, e a tristeza não vai embora.

E o muro, o menos culpado de tudo isso, demoliram semana passada. Tarde demais, na minha modesta opinião.

*Kallil Dib

WWW.kallil.com

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