Na madrugada de quinta-feira, o mototaxista de 57 anos, foi assaltado dentro do estabelecimento onde presta serviços em Assis.
Por volta das 3 horas o funcionário foi abordado por um homem moreno, cabelos encaracolados, que mede em torno de 1, 75 metros. Apontando ao mototaxista um osso bem grande, com prego na ponta, o indivíduo anunciou o assalto e exigiu que lhe fosse entregue o celular e dinheiro.
Passava pela rua o caminhão de boi, levando ao terrível abate toneladas de bovinos. Capenga, cor azul celeste, o caminhão virava a esquina de vagar, sem pressa, naturalmente. O motorista, com boné amarelo (propaganda do candidato a vereador) e um cigarro na boca, ouvia em seu toca fita a notícia do dia: 'Ladrão rouba estabelecimento munido com um pedaço de osso bovino'.
Às gargalhadas, o sujeito não entendia como aquilo pudera acontecer. Um osso, pedaço de boi que ele carregava, tão terrível quanto uma metralhadora, nas mãos de um marginalzinho sem a proeza de conseguir um 38 ou uma faquinha de serra (colocaria mais medo).
No caminho do matadouro, o motorista, de cabelos encaracolados, que media em torno de 1,75, pensava no acontecido. Algo irreal, inimaginável para os anos dois mil. Um osso, um prego, ladrãozinho de m....
Quando chegou ao local desejado, foi correndo comentar a notícia com os compadres que ali estavam. O assunto já corria entre todos. Cada um com seu comentário fervido. De onde saiu o osso, era o açougueiro o tal assaltante?
Depois de acompanhar os coitados animais serem massacrados, o motorista olhava para o osso que sobrara de canto. E o osso olhava pra ele. E ele via naquele resto de boi, uma arma poderosa.
Pensou na situação que passava em casa. Dois filhos para criar, mais duas pensões para pagar. E o caminhão capengando...
Com um saco preto enrolou o osso grande. Colocou em seu caminhão e foi embora. Há tempos o desespero tomava conta de seu imaginário. Assim, o ladrão do osso, havia lhe dado uma grande ideia, de girico.
Lavou o sangue que ainda escorria no osso branco. Cravou um prego grande e enferrujado na ponta do dito cujo, e esperou a madrugada chegar.
O alvo era um ponto de moto taxi duas quadras dali, deserto por ser aquela hora da noite.
Quando chegou às 3 horas, as pernas estremeceram. Nada de mal poderia acontecer, apenas o osso quebrar, ou ele amarelar. Não aconteceu.
Chegou até o ambiente com a cara limpa e o osso sujo. Anunciou o assalto. Pegou um celular e umas moedinhas que serviam de troco. Pra dar uma de bandido, bateu com o osso na cabeça do mototaxisista de plantão.
Saiu de lá arrependido. Pensando em como se desculpar.
Parou de levar bois para o abate, e foi preso, por não pagar pensão.
Kallil Dib
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