*Por Kallil Dib
Na minha época natal era outra história: todos ficavam esperançosos com os reencontros familiares, esperando novidades, abraços e emoção. O presente ainda era surpresa, ainda acreditávamos em Papai Noel.
Quando o último mês do ano começava o tempo parecia andar bem devagar, as crianças se sentiam livres das obrigações e tarefas escolares, os adultos corriam atrás de bonecas e carrinhos de brinquedo. Era tempo de sonhar.
Como era bom ver a família reunida na sala de estar, decorando a casa com enfeites, avivando tudo com luzes coloridas, arrumando num cantinho estratégico um lugar especial apenas para colocar a linda árvore de natal.
Era tempo em que a verdadeira razão disso tudo fazia sentido, o nascimento de Jesus era lembrado e ressaltado por cada família. Antes das festividades uma união em volta da mesa, uma oração puxada pelo pai, palavras bonitas, de afeto e carinho, sentimento diferente, emoção misturada com muita alegria.
Triste pensar que tudo isso passou.
Agora é outra coisa. Me aventurei a perguntar para um adolescente se ele sabia o verdadeiro significado natalino, como esperado a resposta foi um silêncio. Certamente mais tarde o garoto procurou no Google a resposta para tal pergunta.
É diferente saber que os carrinhos de madeira e as bonecas de pano não fazem mais sucesso, saber que essa era digital ultrapassa até os limites do natal. Qual é o jovem ou a criança que não quer um IPod, notebook, videogame? Qual dessas trocaria a tecnologia por bolinhas de gude ou uma casa da Barbie?
Agora as incríveis luzes de natal que enfeitavam toda a vizinhança não são facilmente encontradas. Sou do tempo em que se via na TV uma disputa da melhor decoração natalina, hoje as luzes que decoram os céus são outras: tiros pra cá e pra lá.
Naquelas ruas de terra as crianças saiam para brincar de pique - esconde e pega-pega, enquanto os responsáveis preparavam a deliciosa ceia da meia noite. Ficaria surpreendido naqueles tempos se a diversão fosse polícia e ladrão, mais ainda em ver a criançada disputar quem seria o ladrão, tornando este o seu ídolo incontestável.
Festas, bebidas e curtição se tornaram os anseios dos adolescentes para essa data. Na minha infância o natal era esperado por todo ano, as semanas que antecediam o dia 25 se tornavam especiais. Assistiamos a filmes natalinos sem cansar e arrumávamos num canto da mesa biscoitinhos e um copo de leite para a chegada do senhor de barbas brancas.
É tão estranho ver que tudo isso mudou, que as famílias já não se importam e que a emoção de se viver um dia de natal está acabando.
É diferente de tudo o que vivi, e olha que não faz tanto tempo assim.
Feliz Natal, como nos velhos tempos.
*Kallil Dib
www.kallil.com