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O medo nas escolas: sintoma de uma sociedade doente

  • 18/04/23
  • 16:00
  • Atualizado há 83 semanas

Luís Fernando Lopes (*)

Nos últimos meses, ataques violentos contra estudantes e professores em escolas brasileiras têm sido frequentes. Ainda que ataques, como os ocorridos em Blumenau (SC), São Paulo (SP) e Manaus (AM), entre outros, sejam recentes, o problema infelizmente não é novo em nosso país. Ao longo dos anos, o Brasil foi palco de diversos ataques a escolas que chocaram a opinião pública e geraram grande repercussão. Se fôssemos considerar uma média de ataques nas escolas brasileiras, ela seria de pelo menos um atentado por ano nos últimos 20 anos. Mas, infelizmente, nos últimos meses essa média aumentou.

Um dos casos mais emblemáticos foi o massacre de Realengo, em 2011, quando um ex-aluno invadiu uma escola e matou 12 crianças. Outro caso que chamou a atenção foi o ataque à escola de Suzano, em 2019, quando dois jovens invadiram e mataram 8 pessoas, entre alunos e funcionários. Esses casos evidenciam a gravidade do problema e a necessidade de ações efetivas para preveni-lo.

Sobretudo, nos últimos quatro anos assistimos a um festival de ataques a professores e instituições educacionais que, se em um primeiro momento eram ataques verbais ou que ocorriam apenas no âmbito das redes sociais, passaram a repercutir diretamente na realidade das escolas brasileiras. Essa disseminação do ódio a professores atingiu o sistema educacional como um todo. Da Educação Infantil até a Pós-Graduação Stricto Sensu, ofensas foram dirigidas a professores, que entre outros adjetivos pejorativos foram considerados doutrinadores comunistas e desocupados.

Para além das situações que envolvem vingança por parte de alunos e ex-alunos que passaram por situações de sofrimento na escola, os ataques recentes se inserem em um contexto mais amplo de ódio, que foi disseminado contra escolas e professores nos últimos tempos. Esse contexto apresentou discussões, por exemplo, como: armas versus livros, escola sem partido, negacionismo científico, homeschooling, militarização das escolas, terraplanismo, direitos e deveres, entre outros, nos quais os interesses políticos e econômicos, amparados por ideologias extremistas, ultrapassaram limites éticos e legais e produziram enorme desumanização. A sociedade adoeceu!

É comum ouvirmos que todas as situações possuem dois ou mais lados, mas em alguns casos, como violência, pedofilia, corrupção, fake news, racismo e todo o tipo de preconceito e atitude desumanizadora, o limite da lei precisa ser respeitado, pois nem sempre é possível contar com o bom senso. Um dos elementos fundamentais nesse contexto de conflitos são as tecnologias de informação e comunicação e mais especificamente as redes sociais. Elas possuem um potencial enorme de disseminação de informações, cuja utilização desprovida de parâmetros éticos e legais tem contribuído, entre outras mazelas, para a destruição dos princípios democráticos.

Em situações extremas como as que têm ocorrido de ataques nas escolas, não faltam aqueles que na maior parte das vezes motivados por seus interesses políticos e econômicos apresentam juízos e soluções ligeiras e irrefletidas que mais tendem a agravar a situação do que solucioná-la. A quem interessa uma sociedade amedrontada, adoecida, totalmente insegura? Infelizmente o mal semeado mostra os seus piores frutos, ceifando a vida de inocentes.

É inegável que precisamos de segurança nas escolas como em todos os espaços públicos e privados. Para isso, temos instituições e pessoas que são preparadas. Caso o efetivo seja insuficiente ou mesmo a preparação careça de melhorias, que soluções sejam buscadas. Mas fazer disso desculpa para tornar a sociedade ainda mais violenta, defender o uso indiscriminado de armas e da violência é no mínimo piorar uma situação que já é muito grave. Não raro, alguns aparentes defensores da "ordem e do progresso" não se receiam em promover o caos, a desordem, o medo, para alcançar seus objetivos mesquinhos.

Fica evidente a necessidade de fazer valer as políticas públicas, bem como de elaborar novas políticas e efetivá-las para que o Estado cumpra seu papel, seja na segurança, na educação ou em qualquer outro campo que lhe compete. Da mesma forma, é preciso que cada cidadão esteja ciente dos seus direitos e cumpra os seus deveres, com vistas a frear o ódio, o extremismo e buscar uma sociedade democrática e pacífica. Para isso, a educação é fundamental!

"Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam". (Deuteronômio, 30:19).

(*) Luís Fernando Lopes é doutor em Educação, professor da Área de Humanidades e do Programa de Pós-graduação Mestrado e Doutorado em Educação e Novas Tecnologias do Centro Universitário Internacional UNINTER.

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