O domínio dos meios de comunicação: entre excluídos e estudiosos
Por Kalill Dib
Eu sou inconsequente, incontestável e apaixonado. Sou um ser humano como qualquer outro e sigo todos os caminhos que a vida me ensina. Assisto à televisão, ouço o rádio, leio jornais, revistas, acesso a internet e discuto minhas opiniões e desejos com alguém tão previsível quanto eu.
E é exatamente através dos meios de comunicação que a maioria da população mundial escolhe seu governo, sua roupa, gosto, jeito, gestos e sorrisos. Somos aniquilados com tantas bajulações, absurdos políticos e programas não censurados pelas mídias convencionais, e o pior, achamos legal.
Eu também faço parte desse contorno, fui criado assim, como milhares de "vitimas" no mundo. Cresci ouvindo meus pais justificarem seus questionamentos pelos jornais televisivos e novelas irreais. Porém, tive a sorte e a vontade incontrolável de estudar e trabalhar com esses meios de comunicação, mas não por tentar mudar as ideias e objetivos dos espectadores. E sim por transformar o mundo midiático, fazendo com que o conteúdo apresentado acrescente nas rotinas e aspirações dos espectadores.
O curso superior justifica o meu anseio. Discussões sobre o assunto são frequentes semanalmente. Pessoas sensatas, distintas e um mediador formado, estudado e objetivo em suas colocações. Debatemos sobre a importância da mídia no cotidiano das pessoas, e qual o nosso papel enquanto futuros jornalistas e formadores de opinião frente a esse mercado ilusório e desigual.
Chegamos a algumas conclusões que logo se desmancham com outros argumentos. Se nós, que temos o acesso a informações e estudamos para sermos os melhores profissionais da área não podemos fazer nada, quem vai fazer?
Contudo, somos engolidos pelo mercado, temos que nos adequar ao conceito de mídia das grandes potências se quisermos alcançar um bom status. Mas podemos ser diferentes e irmos contra esse sistema, conquistando a grande massa da população, aqueles sem acesso a informações que desmintam os noticiários e os roteiros planejados das novelas.
Entre os debates de sala de aula, um tema fica em pauta por alguns instantes, a remuneração. Financeiramente não seria uma má ideia seguir os caminhos feitos pelas potências midiáticas, temos a noção de que trabalhar na grande mídia talvez seja a consequência de um maior reconhecimento social e salarial.
No entanto, se quisermos mudar o cenário da comunicação no Brasil e no mundo temos que abrir mão de algumas coisas, entre elas uma remuneração bem sucedida. Podemos ser diferentes e fazer o que raros profissionais fazem: batermos de frente com os dominantes da comunicação e questionar suas ideias, métodos e conceitos.
Dessa forma nascem, principalmente em bairros carentes que não tem voz frente ao governo, rádios e jornais comunitários. Sem custos abusivos e com força de vontade, a população consegue manter um diálogo entre os moradores e governantes.
Muitas vezes sem concessões para operar, esses meios de comunicação comunitários fazem com que as pessoas questionem, expõem suas ideias e encarem o sistema. Porém, enfrentam dificuldades e na maioria das vezes, depois de conquistar um espaço democrático e respeitado, a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) e a Polícia Federal se encarregam de calar a "voz dos excluídos". Por uma série de motivos estipulados em lei, sem levar em conta, é claro, a liberdade de expressão, tão batalhada por todos.
Mas para isso há uma explicação. Os meios de comunicação, no Brasil, por exemplo, são dominados pelos mesmos nomes, eles são donos de emissoras de TV, rádios, jornais e internet, portanto reprimem a opinião pública e transmitem o que querem, sem qualquer questionamento arbitrário que vai contra as suas opiniões.
Enquanto jornalista em formação tenho a consciência de que essas discussões em sala de aula são de extrema importância. Temos que lidar com algumas controvérsias e lutar para formar uma opinião pública divergente, que contesta as grandes mídias, formando cidadãos concisos e estimulados em ter uma crítica construtiva sobre diversos assuntos e que confrontam as idéias da elite da comunicação mundial.
Por Kallil Dib