* Por Kallil Dib
O texto jornalístico atual e rotineiro é uma concentração de informações e ideias levadas ao consumidor com uma proposta de identificar personagens, fatos e teorias relevantes ao consumo.
Portanto, o conceito de absolutismo empregado nos textos jornalísticos, escritos e falados, se evidencia cada dia mais, de maneira camuflada ao espectador, ou seja, os meios de comunicação não dão espaço para questionamentos e outras ideias de seus espectadores, doutrinando a sociedade através da notícia.
As frases curtas e citações abreviadas são as principais características encontradas nas matérias jornalísticas atuais, assim, não localizamos variedades de textos jornalísticos, como era comum em outras épocas, e ficamos presos ao lead e ao jornalismo factual, aquele baseado em fatos, com conteúdos rápidos.
Para atingir o público, as empresas e profissionais da comunicação buscam adequação ao mercado e ao anseio da sociedade em receber a informação rapidamente. Assim, os diversos gêneros jornalísticos são esquecidos, principalmente o Literário, que tem caráter de produzir reportagens mais profundas e detalhistas, fazendo com que o receptor dedique mais tempo e atenção ao conteúdo transmitido.
Na sociedade atual a leitura não faz parte do cotidiano, e com o avanço da internet, por exemplo, a notícia que é transmitida em um passo acelerado, assim como em tabloides, ganha mais espaço, pois quanto menor o texto, mais leitores vão ter acesso.
O jornalismo, em particular, é a linguagem que codifica e universaliza a cultura hegemônica e legitima a lógica do mercado. A literatura empregada na comunicação é uma das maneiras mais viáveis para o profissional fugir do comodismo, ou seja, sair do mercado de plena publicidade e informações rápidas, curtas e sem conteúdos confiáveis. Ela faz com que as reportagens sejam produzidas mais calmamente, originando técnicas romancistas, como exemplificar olhares, gestos e momentos de um entrevistado, fazendo o leitor vivenciar o fato.
A poesia nos textos jornalísticos é uma maneira de entreter o público, seja em matérias produzidas ou com um conteúdo sintético e analítico, deixa o texto romântico e de fácil compreensão. Poetas e grandes escritores como Carlos Drummond de Andrade, Gabriel Garcia Marques, Mario Quintana e Machado de Assis, têm em suas mais importantes obras a poesia.
Como disse Mario Quintana, em um dia qualquer, "Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo." Tanto na literatura como no jornalismo a poesia se refaz, se distingue de outras técnicas e transforma o texto em um ambiente para o leitor, mais do que qualquer outra matéria de um jornal.
O Jornalismo literário rompe as correntes do lead, uma técnica criada no século XX, com o intuito de dar mais objetividade à imprensa, assim, o primeiro parágrafo de uma matéria jornalística deveria, necessariamente, conter as respostas de seis fundamentais perguntas: Quem? O quê? Como? Onde? Quando? Por quê? Se por um lado, com essa técnica, o jornalismo ficou mais ágil e compreensível, por outro, perdeu a sua essência de produção, e a prática literária perdeu o seu espaço. As matérias ficaram menos criativas, e mais objetivas, porém perderam-se o gosto de se aprofundar em personagens e das técnicas romancistas de se transmitir a notícia.
Como fugir desse comodismo? Leiam as obras de Machado de Assis, José de Alencar, e autores mais recentes, como Rubem Braga, Moacyr Scliar e Felipe Pena. Inspirem-se!
A literatura é mais do que uma vivência no mundo de especulações, matérias sem conteúdos e generalidade da informação. A literatura é um ato humanitário, que acrescenta nos indivíduos, amantes dessa arte (ou não), uma existência em um universo longínquo, vivenciando a melhor maneira de expressão, para a sociedade e para profissional da comunicação: a literatura, a poesia, a crônica, o texto poético, o jornalismo feito com uma boa dose de romantismo.
Kallil Dib
Jornalista | Escritor