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Eu não sei fazer música

Kallil Dib

  • 04/01/13
  • 13:00
  • Atualizado há 627 semanas

*Kallil Dib

Escrevo nessas linhas que me dedicaram palavras que refletem a meu coração, são expressões que não fariam parte de um lindo bolero. Talvez nem a melodia fúnebre e desgraçada pudesse expressar o que esses versos querem dizer, e a canção mais licenciosa conseguisse dar sentido às minhas letras.

Escrevo, pois, não sei fazer música, mas se soubesse, eu não me ousaria nessas linhas tortas e analfabetas, dizendo, a cada três palavras, sobre o amor. Afinal, meu bem, o que é de um autor, ou de um texto desses, se não a sua perenidade? Respondo a essa pergunta: nada.

E assim como em canções, uma letra ou melodia, textos como este se precisa de perenidade. É necessário fazer de sua obra um motivo de lembrança. No domingo chuvoso, no sábado perdido, na solidão de seu quarto, na lembrança de uma vida. Não há nada mais prazeroso a um autor ou a essas palavras do que ser lembrado num momento qualquer.

E vamos convir de que é muito mais simples uma música permanecer no imaginário de alguém do que um texto literário. Certamente você se lembra de como começa e termina a música que marcou a sua infância, mas não faz o mesmo com o primeiro livro que leu.

E isso é a cultura da nossa sociedade. Um hit musical faz tão e mais sucesso do que uma obra prima literária. E você que teima em escrever, se acostume com isso. Não terá reconhecimento em todas as casas de seu bairro e nem queira tentar enfrentar um texto com uma melodia de fundo, nem que seja a pior que já ouviu. Eles têm alguma coisa que impregnam na cabeça desse povo sem cultura.

O sucesso vem daquele que faz o diferencial na aérea em que atua, ou seja, a mesmice te leva ao comodismo e ao inerente caminho da desilusão profissional. Chato mesmo é fazer a mesma coisa todos os dias, agradar a seu chefe e nem sequer se preocupar em transformar o mundo, esse hipócrita mundo em que você faz parte.

Seja o diferente, meu caro. Escreva diferente, fale diferente, viva diferente. Deixa chover, e se a tempestade não passar, dance na chuva. Não se esconda dos problemas e nem os coloque debaixo do tapete, a sujeira uma hora aparece (e triplicada).

E é por isso que escrevo. Mas não sei fazer música. E se soubesse ler partituras e articular notas harmônicas eu cantaria minhas obras, seria um sucesso ao seu coração.

Mas tento ser diferente, escrevo o que penso e não tenho medo das restrições. Talvez assim eu consiga transformar o mundo, ou chamar a atenção para essas linhas que me dedicaram.

Kallil Dib

www.kallil.com

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