Estou com medo José: falei a verdade no facebook
*Por Por Kallil Dib
Hoje eu atualizei a minha página no facebook, eu e mais alguns 800 milhões de usuários, depois fui até o Twitter, encontrar mais 100 milhões de pessoas para expandir as minhas babaquices e até deter alguma informação relevante. Quanta diversidade, informação, liberdade de expressão. O direito popular de se expressar é a grande qualidade e diferença dessas redes sociais, rotuladas como o amplo exemplo democrático e liberal do país. Mentira, José.
Conheci um estudante de jornalismo. Último período, extenuado com os demasiados quatro anos de teorias e práticas na área, ouvindo sermões, dicas, rumando ao mundo das palavras e formando opiniões.
Como um bom comunicador, o garoto com cara de assustado e um tanto sonhador, tentava se enquadrar no meio das esquisitices do jornalismo. Estudou democracia, censura prévia, liberdade de expressão. Conheceu suas origens, passou por sociologia, comunidades, filosofia, cultura, ouviu dizer que não devia se limitar e que a liberdade de expressão era dever de um jornalista. Mas se deparou com o mundo. Mas não porque quis: o mundo é assustador, é mentiroso.
Certa vez, numa noite chuvosa e friorenta, a temática da aula era questionar e argumentar sobre a sociedade, a mídia e a democracia. Uma roda de discussões com um mediador adequado e alunos quase formados, diversas opiniões e uma só conclusão: a sociedade é palpada pela mídia, que insinua: vivemos num país democrático. Os alunos chegaram até a liberdade de expressão, e não demoraram a atingir o objetivo: liberdade de expressão? Aqui? Onde? Nem em sonhos, José.
E então a pauta foi para as redes sociais, as tão comentadas, iludidas e utilizadas redes sociais. Sinônimo de liberdade, mentira. Já viraram sinônimo de dor de cabeça, ferramentas da justiça, motivos de demissões e exclusões. E ouvi gente dizendo que eram ferramentas de integração. Não, não são, mas eram para ser.
Em Assis, interior, terra do pé vermelho onde todo mundo conhece o Senhor Prefeito, as redes sociais são armas poderosas. E a censura é evidente. O mesmo colega, assustado estudante de jornalismo, exercia semanalmente o dever de comunicador e colocava em prática os ensinamentos passados em sala de aula. Era crítico, um raro caso de estudante de jornalismo que questiona os poderosos, na pequena cidade do pé vermelho. Até que um dia ele se deparou com o real.
Discorreu sobre um fato ocorrido com alguns dos donos da cidade. Criticou, expôs, e alertou a sociedade sem informação sobre o acontecido. O episódio tomou grandes proporções na internet, até que um desconhecido ligou e em outras palavras, que não ouso escrever, disse: "Ei você está em Assis e por aqui sou eu que mando seu jornalista de...".
O tempo passou, o fato caiu em esquecimento, como esperado, e outros artigos foram escritos: o garoto que vendia bala na avenida, o mendigo que era rotulado como agressivo, a hipocrisia da sociedade e outros tantos... Todos com certa repercussão nas redes sociais. Ah essas redes. Descobri que são censuradas, e muito.
Como é sabido por aí, desde quando alguns picaretas tiraram a obrigatoriedade do diploma o curso de jornalismo não é mais o mesmo, os jovens pensam que não é mais preciso passar na academia para entrar no meio da comunicação, e então as faculdades ficam às moscas, e essas moscas são mais inteligentes que essas pessoas metidas a jornalista.
Mas a opinião é como um prato cheio de sopa, você pode deixar cair e se queimar ou até lamber o prato depois. Porém a sopa é amarga, salgada, invejada. Opinião crítica não é qualquer pessoa que tem coragem de dar, e quando alguém expõe o seu conceito é simplesmente vitimado pela hipocrisia. Ainda mais nas redes sociais.
Depois da aula o rapaz, meu conhecido, foi embora se questionando de onde vinham todas aquelas idéias transmitidas pelos docentes, que diziam admirar a competência e coragem dos profissionais críticos que não se calam e dizem o que pensam, sempre em auxílio à sociedade.
É José, acho melhor você pensar muito bem antes de ingressar no curso superior, porque tem certas coisas que desanimam, e muito.
Cuidado, não fale a verdade no facebook, ele é censurado, mas ninguém sabe.
Kallil Dib
www.kallil.com