Por Kalill Dib
Sentia-me um esportista, caminhando e correndo, nas ruas propícias da cidade. Um fim de semana costumeiro, no horário de verão, feito apenas para isso. Eram 18h e um sol da Bahia, ainda.
Enquanto eu e mais alguns inúmeros gatos pingados, íamos em direção a boa forma, o bar, com cara de mercearia requintada, se mantinha no esmero, sustentado por alguns boyzinhos, com camisetas apertadas e brincos brilhantes na orelha esquerda, ao lado de suas namoradas sem qualquer conteúdo.
Tudo normal se não fosse o imprevisto. O imprevisto aconteceu quando a mercearia fechou, e os amigos, pelo menos cinco, deixaram suas loiras em casa e saíram rumo a baderna. Com um tanto de Heineken na cabeça, dentro do carro grande e preto, o único objetivo da turma dos riquinhos, era perturbar quem quer que seja. Causar revolta, xingar, arrumar confusão. Afinal, "meu pai é influente".
Mal acostumados com a vida de pequenos, a garotada que acabava de completar a maioridade, não mediu as consequências de atos impensados, ou não. Pensaram tão inocentes, que passar ali na rua propícia para o exercício, e encher qualquer normal que caminhava sossegado, com insultos e atos covardes, seria um tanto normal. Afinal, "meu pai é influente".
Influente tanto que num dia de bagunça foram além. Era certo que em determinado momento, alguém, por mais normal que seja, iria se irritar e até se 'rebaixar' ao nível dos filhinhos de papai. E foi assim, que naquele horário de lazer, um casal se irritou com as atitudes vexatórias dos "garotões de Beverly Hills", que ainda assim provaram o tamanho de suas rebeldias. Uma briga meio que desigual, e para o casal o hospital era logo ali.
Para os autores, nada. Filhos, sobrinhos, seja lá o que for de "influentes" empresários e comerciantes da cidade, seus nomes não foram noticiados, seus atos 'esquecidos' e no máximo levaram uma bronca dos responsáveis, que cortaram metade de suas mesadas.
Ah se morassem em becos, já estavam no xilindró.
Tal acontecimento me faz remeter a algumas conclusões, de um pobre, honesto e conclusivo quase jornalista: realmente eu não sei o que é o mundo dos ricos, e quer saber? Nem quero.
Se para chamar atenção, e se tornar irredutível no espaço dos playboys, se devem fazer arruaças, e intimidar outras classes sociais, eu fico mesmo como jornalista. E no exercício da profissão, por vezes digna, reconhecível e que por vezes oferece a sua vida para passar informação à sociedade, eu me sinto, ainda, no direito de divulgar nomes e sobrenomes de qualquer meliante, independente de seus pais. Mas não posso. Ainda sou um mero estudante...
E depois os pobres que são perigosos. Vai entender.
Não é difícil saber e comprovar que os ricos, são tão pobres por natureza. Essa história vem de antes, muito antes, e começou a se evidenciar em 20 de abril de 1997, quando, em Brasília, cinco jovens burgueses colocaram fogo em um índio que dormia no banco da praça. E o jovem de família rica que foi preso em São Paulo ano passado, considerado um dos principais traficantes daquele lugar.
Não vamos longe. Olha os políticos, tão podres de rico e canalhas, corruptos, etc.
O revoltante é que não vai dar em nada, nunca.
Ser rico é fácil por aqui, afinal... "meu pai é influente" e por aqui isso basta.
Por Kallil Dib