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Dia mundial sem tabaco. Tarde demais, Seu Gandolfo

Kallil Dib

  • 31/05/12
  • 09:00
  • Atualizado há 658 semanas

* Por Kallil Dib

Ele era Gandolfo de Marte, o sujeito que fumava. Soltava mais fumaça do que a chaminé da casa ao lado. Tinha um perfume de tabaco, com essência de alcatrão e uma dose de metais pesados.

Despertava as anuncias da cidade turbulenta. Fazia arte com madeiras, vendia no centro da cidade, em frente a catedral, e fumava. Fumava tanto que as suas economias iam todas pro bar do Zé. Pitava desde os 13, tinha 50, sem família e amigos. Morava na casa de madeira, jogada no meio de certas mansões.

Sua companhia era o fininho, qualquer que seja: de palha ou de papel de pão, de marca boa ou do Paraguai. O gosto da fumaça e o cheiro da nicotina entre seus dedos o faziam despertar. Aquelas substâncias acalmavam seus neurônios, e seu jeito de sabichão, metido a besta, se extinguia com aquele ato.

Gandolfo de Marte usava óculos de garrafa, calça suja de tinta e terra, e uma 'havaianas' branca com tiras azuis. Tinha dentes estragados e amarelos, pele ressecada, e um bafo de Leão. No bolso um tanto de cigarros, e na orelha mais um. Fumava um, acendia outro...

Chegou o dia de parar, depois de tantos 30 anos dando uma pitada. O cigarro não o salvou, ele morreu de tanto fumar, com dor, aquela dor que nem o cigarro conseguiu curar.

E se tivesse guardado todo o dinheiro que usou para se matar, Seu Gandolfo ao menos morreria mais bonito.

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