Na esquina dos olhos verdes, os cabelos cacheados e loiros. Um vestido branco ela vestia, um sorriso lindo e de ternura. Mas que vergonha tinha aquela donzela, que linda era aquela mulher.
"Se o mundo ainda existir, eu vou amá-la" disse ele, em um dia de domingo.
Esperava quieta no canto, um perfume chegar, amarrava as tranças de lado, piscava lentamente, com seus olhos verdes. Era Clarice
Clarice de minha vida. Clarice de amor, Clarice.
Palavras eram doces melodias. Os acasos na esquina, coisa de menina. Menina Clarice, que menina.
O sol se punha, a lua chegava, o vento soprava frio e um beijo a esquentava. Era amor de menina, amor que nunca viu, que soube existir.
"E se o mundo parar, eu ainda te amo" disse ele com lágrimas no peito.
Ah, Clarice, que de ternura ainda vive.
Rasgava ao meio os papéis com letras bonitas, mandados pelos rapazes da rua. Tinha em seu quarto a foto de um amor, o único amor. Mas Clarice se desfez.
Na manhã friorenta e temida daquele sábado chuvoso, os olhos verdes se foram com as lágrimas que insistiam em sujar o seu rosto de anjo.
O amor mais lindo, do beijo eterno, do jeito mais sincero, do amor que nunca viu, se foi.
Morreu de amor, em uma cama vazia.
Clarice, ah Clarice, matou seu amado.
Matou e chorou por ter o dispensado.
Por simples bobeira de menina mimada, que nem ela sabia explicar.
Clarice, a menina dos sonhos, a mulher de solidão, a amante dos pecados.
"E se um dia tudo virar fim, eu ainda vou amá-la" disse ele, antes de partir.
Kallil Dib
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