A tragédia do Trumpismo para a sociedade global
Artigo/Opinião
A posse de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2025 trouxe preocupações ainda maiores do que sua primeira gestão, em 2017. Agora, respaldado por bilionários que comandam as principais empresas norte-americanas, Trump adota um discurso que divide ainda mais a sociedade, intensificando posições anti-imigração e homofóbicas que repercutem dentro e fora do país. Entre suas ações mais polêmicas estão a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e uma série de iniciativas provocativas, como a tentativa de anexação da Groenlândia, a proposta de renomear o Golfo do México para "Golfo da América" e a retomada do controle sobre o Canal do Panamá. Essas atitudes não apenas desrespeitam a soberania de outras nações, mas também reforçam uma visão imperialista ultrapassada e perigosa.
As medidas econômicas de Trump também alimentam tensões globais. A ameaça de taxar países do bloco BRICS, caso decidam abandonar o dólar como moeda principal de negociação, evidencia seu estilo autoritário e coercitivo, além de destacar sua incapacidade de aceitar as transformações inevitáveis no cenário econômico internacional. Ao declarar que a América do Sul, inclusive o Brasil, não possui importância estratégica para os Estados Unidos, Trump demonstra ignorância geopolítica e desdenha de parceiros comerciais e aliados históricos. Sua postura não só isola os Estados Unidos como mina esforços de cooperação internacional essenciais para o enfrentamento de desafios globais, como mudanças climáticas e desigualdades econômicas.
A obra "Como as Democracias Morrem", de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, oferece reflexões importantes sobre os perigos representados por líderes que subvertem os sistemas democráticos por meio de discursos polarizadores e práticas autoritárias. Os autores ressaltam como as democracias contemporâneas, embora robustas em teoria, têm falhado em impedir a ascensão de figuras que ameaçam os valores democráticos fundamentais. Trump é um exemplo claro disso: seu comportamento encoraja gestos e saudações que remetem ao nazismo e ao fascismo, criando um clima de intolerância e violência simbólica entre seus seguidores. A falta de limites claros para a atuação de líderes como ele coloca em risco não apenas os Estados Unidos, mas o equilíbrio global.
É fundamental lembrar que as democracias modernas são herdeiras de lutas históricas significativas, como as Revoluções Francesa e Americana, que trouxeram ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. Contudo, é preciso reconhecer que esses sistemas também carregam as marcas do poder burguês, moldado pelo controle econômico que persiste até hoje. A posse de Trump, com uma comitiva cheia de bilionários, é uma prova disso. O trumpismo, com seu discurso de supremacia e imposição, é uma tentativa de reviver uma era imperialista que já deveria ter sido superada. A era dos impérios acabou, e os Estados Unidos não são o Império Romano. Assim como todas as hegemonias anteriores, a liderança norte-americana não é eterna e deve se adaptar às novas dinâmicas globais.
O patriotismo, tão debatido atualmente, não pode ser confundido com subserviência. Quando um brasileiro faz continência à bandeira americana, está jogando fora a história de lutas e conquistas do Brasil, aceitando uma inferioridade que não existe. O complexo de vira-lata, como descrito por Nelson Rodrigues, não pode ser a narrativa que guia as relações internacionais do país. Cada nação tem sua soberania e dignidade, e é preciso reafirmar esses valores diante de lideranças que tentam impor sua vontade a qualquer custo.
O desafio atual é unir líderes mundiais e cidadãos comprometidos com os valores democráticos para resistir ao avanço de ideologias autoritárias. A hegemonia econômica dos Estados Unidos, embora ainda forte, está longe de ser insubstituível. A cooperação internacional, o respeito mútuo e a preservação dos direitos humanos são os caminhos para um futuro mais justo e equilibrado. Permitir que líderes como Trump sigam sem oposição significa renunciar a décadas de progresso político e social.
Se o mundo não aprender com os erros do passado, corre o risco de repetir tragédias históricas. Bem disse o filósofo alemão Karl Marx, "a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa". O trumpismo, com sua combinação de negacionismo, autoritarismo e desprezo pelos valores democráticos, é um alerta de que a democracia precisa ser constantemente defendida e fortalecida. Cabe a todos - cidadãos, governos e instituições - frear suas consequências antes que o custo para a sociedade global se torne irreparável.