A mentira contada por um menino de 8 anos
COLUNISTA - Kallil Dib
Por Kallil Dib
"Chorei ao perceber que era fome", disse a professora do menino de 8 anos que desmaiou em plena sala de aula em uma escola municipal do nordeste brasileiro. O garoto percorre todos os dias mais de 30 quilômetros para chegar à unidade escolar. Sai de casa quando o sol ainda não apareceu e volta quando ele já se despediu.
A fome é um costume que o acompanha no duro caminho das estradas de terra. Vai com a mochila e o caderno que ganhou do governo no ano passado. Caderno de cem folhas, que exibe na capa o slogan 'Pátria Educadora'. Sandália de dedo, short azul e camisa branca esgarçada.
Chega à escola cansado, da rotina e de seus passos, mas espera pela merenda, que na verdade é um lanche com pão e manteiga, fornecido por volta das 15h30, no recreio das aulas da tarde. A sua última refeição tinha sido um prato de mingau de fubá, comido no dia anterior, que não o sustentou.
Sentiu dores no peito. Suas pernas e mãos tremiam, enquanto as lágrimas incontroláveis desciam por seu rosto. Desmaiou.
Os médicos foram chamados e atenderam logo ao pedido de socorro. Ao chegarem, encontraram um menino caído no chão. O examinaram rapidamente e deram o diagnóstico que ninguém havia cogitado por ali: era fome.
"A gente se sentiu impotente. Como uma criança desmaia de fome?", completou a educadora.
BRASÍLIA — Durante café da manhã com jornalistas estrangeiros no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ser uma "mentira" dizer que existe fome no Brasil.
Sim, parece invenção de escritor metido a contar fantasias, mas acredite, são fatos: a história do menino que desmaiou de fome e a inexplicável fala do nosso presidente da República.