*Por Kallil Dib
O ano era 1922, São Paulo, capital. O mês de fevereiro começa com mais um dia chuvoso de verão. Em duas semanas o Teatro Municipal receberia a Semana de Arte Moderna. Artistas vindos de outros cantos do país exporiam suas obras, e a partir daquele momento renovariam os conceitos e ideologias da arte.
Os dias de garoa, costumeiros em São Paulo, ficariam mais belos em meio às pinturas e esculturas, poesias, literatura e música. Tudo se renovaria aos conceitos artísticos: os poetas declamavam seus alentos, a música era acompanhada por orquestras sinfônicas, e as obras expostas em telas, esculturas e maquetes.
Entre nomes reconhecidos do modernismo, Oswald de Andrade se destacava com sua prima de romancista, ajeitava seu óculos capengaa cada quatro passos, e sorria com seu romance declamado.
A época escolhida era de agitações políticas, sociais e culturais. O mundo não se adequava com as novas ideias, vindas de cabeças pensantes e inigualáveis. Além de Oswald,Mário de Andrade, Plínio Salgado, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, espantavam os críticos e a mídia com seus conceitos históricos e inovadores.
Foi em meio a essas desconfianças e a todas as críticas que a Semana de Arte Moderna, também conhecida como semana de 22, mudou o destino, a origem e a ordem da cultura no país.
As músicas fizeram sentido, as poesias foram ouvidas, as esculturas reconhecidas. A ebulição da nova identidade literária foi feita. Livre para se expressar os pensantes, denominados como gênios, e comuns, por leigos, não seguiam regras e nem se limitavam, apenas se sentiam livres para se expressar, longe de qualquer absolutismo.
Na época a Semana de Arte Moderna não representou muito, pois foi ofuscada pela crise histórica do país sem cultura. Mas ao longo do século mostrou que seu propósito foi alcançado e cada vertente literária projetou a sua ideologia pelos cantos do país.
Oswald de Andrade disse, num dia de garoa costumeira: "como poucos, eu conheci as lutas e as tempestades. Como poucos, eu amei a palavra liberdade e por ela briguei." E fez a sua prosa reinar por anos, até mesmo depois da morte, assim como a semana de 22.
- Kallil Dib
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