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Nº de pessoas em situação de rua cresceu 38% em três anos no Brasil, diz Ipea

População em situação de rua no Brasil cresceu 38% nos últimos três anos, e passa de 281 mil pessoas, segundo estimativa do Ipea. Salto foi de 211% em dez anos.

G1

  • 12/02/23
  • 12:00
  • Atualizado há 89 semanas

"Aqui é legal de morar. Ninguém vai mexer com vocês. É tranquilo."

A dica recebida pela Regiane Cristina Albuquerque do Nascimento, a Cris, foi decisiva para que ela e o marido se instalassem em uma travessa da Avenida Paulista, uma das principais vias do país.

Lonas, plásticos e mantas, sustentados por madeiras, canos e bambus, passaram a formar, então, o que a guarulhense de 36 anos chama hoje de lar.

Divulgação - Cris e Mateus moram em barraca improvisada em uma travessa da Avenida Paulista. — Foto: André Catto/g1
Cris e Mateus moram em barraca improvisada em uma travessa da Avenida Paulista. — Foto: André Catto/g1

A barraca de cerca de três metros de extensão e no máximo um e meio de largura ganhou forma com colchões usados, cobertores, objetos pessoais, itens de cozinha e de higiene.

'Apesar de estar na rua, aqui é tudo limpinho. Eu gosto de limpeza. Acabei de lavar a calçada. Pode se sentar", diz Cris, solícita, ao encontrar a reportagem do g1.

Ela está em situação de rua há dois anos - metade deles instalada na calçada lateral do parque Prefeito Mário Covas, na Paulista. Com o marido, já morou em alguns pontos do centro de São Paulo, como o Largo São Bento e Anhangabaú.

"Quem me indicou para ficar aqui foram umas amigas trans que conheci na rua. Aqui era mais tranquilo, diferente dos outros lugares em que fiquei", comenta.

Crise financeira

A perda de uma renda fixa fez Cris ir para a rua. Ela e o marido recebiam, até o início da pandemia de Covid-19, pouco mais de um salário mínimo cada. Cris, trabalhando como açougueira em uma rede de supermercados. O marido, em um lava-rápido.

Juntos, levantavam cerca de R$ 3 mil por mês, o suficiente para o aluguel de R$ 750, que incluía água e luz. Os dois perderam emprego na mesma época, e viram as economias derreterem.

"A gente tinha economizado um dinheiro, mas zerou. A gente gostava de passear, até pegou um cachorro. Mas, com a pandemia, acabaram nossas economias. Aí ele me falou: 'Vamos fazer o quê?'. Eu respondi: 'Vamos pra rua'. E fomos", conta.

Apesar de não ser o único motivo, a falta de renda é a principal causa a levar uma pessoa a viver em situação de rua, afirma Marco Natalino, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

"O fator econômico inclui falta de renda e de oportunidade de trabalho nos locais de moradia. Isso se manifesta também no caso de pessoas que até têm uma habitação longe dos grandes centros, mas passam a semana ou vários dias dormindo de forma improvisada nas ruas e trabalhando como lavador de carro, ambulante e outras coisas", diz.

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