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Setembro Amarelo: "Pedir ajuda foi meu maior ato de coragem", relata assisense

Portal AssisCity entrevistou pessoas que já viveram essa realidade do suicídio e especialista que falou sobre a importância da conscientização sobre o assunto

Redação AssisCity

  • 10/09/24
  • 09:00
  • Atualizado há 10 semanas

O mês de setembro é dedicado à campanha do Setembro Amarelo, uma iniciativa que visa conscientizar a população sobre a importância da prevenção ao suicídio. A escolha de setembro como mês de referência está associada ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado nesta terça-feira, 10 de setembro.

O suicídio é uma das principais causas de morte em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e afeta diretamente milhões de famílias todos os anos. No Brasil, as taxas de suicídio são alarmantes, especialmente entre os jovens e idosos. A campanha do Setembro Amarelo busca mobilizar a sociedade para entender que o suicídio é um problema de saúde pública, e que sua prevenção passa pela informação, acolhimento e cuidado.

Relatos de quem já viveu essa realidade

O Portal AssisCity ouviu duas moradoras de Assis que serão identificadas apenas pelas iniciais, que já passaram por essa realidade e falaram sobre a importância de políticas públicas eficazes e de buscar ajuda profissional neste momento.

"Campanhas como essa devem ser continuas e focadas não só na prevenção, mas também na desconstrução desse estigma, que pode ser fatal. É importante que as políticas públicas tenham um olhar mais humanizado e que a sociedade tenha mais empatia e amor a todos que passam por isso. Depressão e ansiedade é algo sério, e infelizmente, ninguém está preparado para enfrentar essa realidade. Por isso precisamos olhar com foco e dedicação, pois a saúde mental precisa de cuidado o ano todo", disse R.T.

Para F.P.S, de 37 anos, a ajuda de um profissional foi fundamental para que ela entendesse os seus sentimentos e encontrasse novamente a vontade de viver. "Há momentos em que não conseguimos enxergar um único metro a nossa frente, não é possível assimilar alguma esperança imersa em tanta dor. E é nesse instante em que se abre um vazio, imenso e profundo. Como não conseguimos ver a saída, vem uma emoção muita conhecida, que vive camuflada entre sorrisos ao sol e lágrimas no escuro: o desespero, a sensação de desamparo e solidão profunda. Em um instante sem ar podemos chegar muito perto de realmente acabar com ela, mas sempre existe uma gota de esperança em nós, porque acreditamos minimamente que um milagre pode acontecer e nos tirar do olho do furacão. E eu achei a saída, o tal milagre. Eu percebi que sozinha eu não ia conseguir e pedi ajuda profissional naquele dia. Iniciei naquela semana um tratamento e me vi completamente renovada, restaurada, curada dessa depressão que quase me levou ao fim dos tantos sonhos que desenhei e alguns que já realizei", contou ao Portal AssisCity.

Neste Setembro Amarelo, F.P.S deixa uma mensagem para todos que estão passando por situações parecidas. "A mensagem que quero transmitir é que nenhuma dor é pequena demais e nenhuma alegria é grande para sempre. Existe em nós a capacidade de acreditar, de sentir a pequena brasa de vida que pulsa em nós. Há coisas que não podemos mudar, mas podemos adaptar para nós libertar. Assim como a pequena flor em seu movimento singelo, eu caminho um passo de cada vez a frente, buscando na simplicidade do dia a dia a verdadeira beleza. Aí é onde eu tenho convicção que sempre fui forre, e pedir ajuda foi meu ato de maior coragem", conclui.

A importância da ajuda profissional e da conscientização do Setembro Amarelo

O Portal AssisCity também conversou com a psicóloga Ana Paula Reis Manfio, de Assis, que falou sobre a importância da campanha na conscientização sobre a saúde mental e a prevenção ao suicídio. "O Setembro Amarelo é uma oportunidade de falarmos sobre a importância da saúde mental, bem como um meio de chamarmos a atenção da população para um assunto tão importante e tão delicado como o suicídio. Por meio dessa campanha, buscamos promover saúde mental através da conscientização, da prevenção e do encorajamento daquelas pessoas que estejam enfrentando em silêncio seu sofrimento", disse a psicóloga.

Reprodução/Arquivo Pessoal - A psicóloga Ana Paula Reis Manfio - Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
A psicóloga Ana Paula Reis Manfio - Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Principais sinais de alerta

Sobre os principais sinais de alerta que indicam que uma pessoa pode estar em risco de suicídio, a psicóloga explica que geralmente, há uma desordem emocional que antecede o ato, como tristeza profunda, irritabilidade excessiva, ansiedade, estresse, choro e culpa. "Sinais comportamentais como isolamento social, perda do autocuidado, perda da motivação para estudos e trabalho, abuso de álcool e drogas são indícios de que essa pessoa possa estar em sofrimento emocional que poderá levar a um pensamento suicida. Fatores psicossociais como perda de emprego, ruptura em relacionamentos, problemas financeiros, perdas concretas ou simbólicas, também são desencadeantes de ideação suicida. Além de fatores biológicos como transtornos mentais já presente e casos de suicídio já ocorrido na família", explica Ana Paula.

Apoio familiar

Para a psicóloga, o acolhimento ao sofrimento, ouvindo com empatia e sem julgamentos é um dos principais gestos de apoio familiar. "É importante não comparar a dor e o sofrimento do outro com o seu, não atribuir o sofrimento como a falta de Deus e principalmente oferecer ajuda especializada de um profissional da saúde", explica.

Mitos e estigmas sobre a saúde mental

Ana Paula explica que os mitos mais comuns sobre o assunto são ideias errôneas como "quem quer se matar não avisa" ou que "falar sobre suicídio vai estimular pessoas a cometer suicídio". "Precisamos entender que a pessoa com ideação suicida não quer tirar propriamente sua vida, mas o sofrimento que ela está vivendo e que não dá conta de suportar naquele momento. Esses avisos, são pedidos de socorro para não cometer este ato de fugir de si mesmo através do suicídio diante da dor e do sofrimento. Falar sobre esse assunto não estimula o suicídio, pelo contrário, abre espaço para essa pessoa que está em sofrimento poder vivenciar sua dor através do acolhimento e da escuta que é tão importante", disse a psicóloga.

"Ainda há muitos preconceitos na busca por um profissional da saúde mental por pensar que só 'loucos' precisariam desses profissionais. Mas pelo contrário, nós prevenimos transtornos leves e graves, com o cuidado da saúde mental. A prevenção de transtornos mentais começa com o cuidado emocional, com gerenciar o estresse e o fortalecimento para o enfrentamento de situações conflituosas da vida", explica Ana Paula.

Para a psicóloga, campanhas como o Setembro Amarelo podem ser eficazes na redução das taxas de suicídio ao promover a informação correta acerca do assunto, desmitificando o preconceito em torno de falar sobre o suicídio e, principalmente, ao alertar para o cuidado com a saúde mental que se faz necessário não só em setembro, mas durante todo o ano. "O Setembro Amarelo é uma excelente campanha, porém políticas públicas precisam ser colocadas em prática para que possamos lidar com o fenômeno do suicídio que é crescente. Compreender que o suicídio se trata de um problema de saúde pública e que, portanto, precisamos desenvolver estratégias que contribuem para a solução dos fatores que desencadeiam sendo eles de ordem biológica, mental, psicossocial, de moradia, financeiro, precisamos trabalhar de forma sistêmica com os diversos setores da sociedade a fim de amenizar esses fatores de risco ao suicídio. Sendo assim, o acesso à saúde pública de qualidade, que é um dos pilares da atenção na saúde mental é fundamental", conclui.

CVV - Centro de Valorização da Vida e CAPS - Centro de Atenção Psicossocial

O município de Assis conta com o Centro de Valorização da Vida, o CVV e três unidades do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que oferecem serviços de saúde mental de forma gratuita para todos que necessitam de atendimento.

Reprodução - A página do CVV na internet - Foto: Reprodução
A página do CVV na internet - Foto: Reprodução

Formado exclusivamente por voluntários, o CVV realiza atendimentos de forma anônima, em nível nacional, através do telefone 188 que funciona 24 horas por dia.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços de saúde mental que tem caráter aberto e comunitário e são constituídos por equipes multiprofissionais (equipe de enfermagem, psicólogos, psiquiatras, oficineiros, entre outros) que atuam de forma conjunta. Em Assis, com três unidades, os atendimentos são realizados nos seguintes endereços:

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL II - CAPS "Ruy de Souza Dias"

Endereço: Rua Santa Cecília, 82.

Horário de Funcionamento: De segunda à sexta-feira, das 07h00 às 17h00

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTO JUVENIL - CAPS IJ

Endereço: Rua Dr. Lycio Brandão de Camargo, 40, Vl. Clementina.

Horário de Funcionamento: De segunda à sexta-feira, das 07h00 às 17h00

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E DROGAS - "Profº Abílio da Costa Rosa"

Endereço: Rua Benedito Lutti, 316 - Vila Xavier.

Horário de Funcionamento: De segunda à sexta-feira das 07h00 às 17h00.

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