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Esqueletos de serpentes e crânio de pássaro de 80 milhões de anos foram encontrados em Presidente Prudente

As novas descobertas estão relacionadas a aves e répteis do Período Cretáceo

G1

  • 07/08/20
  • 15:00
  • Atualizado há 224 semanas

Que o Sítio Paleontológico do Parque dos Girassóis, em Presidente Prudente (SP), é rico em fósseis de aves a comunidade científica já sabe. Mas novas raridades podem colocar a cidade em maior evidência: serpentes. A descoberta vem com novos questionamentos:

- Como esses répteis estavam associados às aves na época dos dinossauros?

- O que houve para que o local se tornasse um grande "cemitério de aves"?

Nesta quarta-feira (5), o paleontólogo Willian Roberto Nava, do Museu de Paleontologia de Marília (SP), anunciou duas novidades da época dos dinossauros relacionadas ao Sítio Paleontológico prudentino.

A localização de fósseis de serpentes é a primeira novidade. Segundo Nava, este foi o terceiro achado de serpentes no Brasil do Período Cretáceo, entre 70 e 80 milhões de anos atrás.

Divulgação - Paleontólogo Willian Roberto Nava mostra crânio de ave e pré-maxilas — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Paleontólogo Willian Roberto Nava mostra crânio de ave e pré-maxilas — Foto: Stephanie Fonseca/G1

Durante as escavações da área na zona sul de Presidente Prudente, dois esqueletos de serpentes foram localizados. "Serpentes, que viveram depois dos dinos, têm algumas, mas, como aqui é material da época dos dinossauros, esse material de Presidente Prudente de serpente seria o terceiro registro no Brasil", afirmou.

Conforme Nava, existem outros registros nas regiões de São José do Rio Preto (SP). "Mas esse material de Presidente Prudente está muito melhor preservado", comentou.

Um dos esqueletos de serpentes tem 60 vértebras e o outro, além de possuir cerca de 40 vértebras, estava acompanhado de fragmentos do crânio, desarticulado, com dentes. Nava salientou que "é um super achado. Serpente é fantástico". "Indica uma conservação excepcional do material. Muito bacana mesmo", ressaltou.

Divulgação - Equipes localizaram também pré-maxilas — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Equipes localizaram também pré-maxilas — Foto: Stephanie Fonseca/G1

"Embora seja, 'ah, cobra está cheio por aí', da época dos dinos é difícil encontrar, porque eram animais pequenos e difíceis de fossilizar. Então, como a rocha nesse ponto é bem fininha, a descoberta indica que no Período Cretáceo, naquela região, conservou", explicou o paleontólogo.

O cientista ainda colocou que levantou questões como "será que a serpente se alimentava das aves ou vice-versa?". "Isso nós vamos saber futuramente com os artigos", declarou Nava.

Divulgação - Materiais foram localizados em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Materiais foram localizados em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/G1

Como os estudos continuam, ainda não se sabe quais são as espécies das serpentes e também não podem ser divulgadas imagens. Mas sabe-se que eram bem pequenas. "A gente imagina, no máximo, 50 centímetros de comprimento; uma hipótese", disse.

"Esse material da serpente está associado com 90% dos fósseis daqui, que são de aves", enfatizou ainda.

A pandemia da Covid-19 atrasou pesquisas, mas pretende-se publicar artigos em revistas de referência da ciência ainda neste ano.

Aves

Nava também anunciou um crânio de ave associado a um esqueleto.

"Eram aves que foram extintas na época dos dinos. Eram pássaros do tamanho entre um beija-flor e um pouquinho maior do que um pardal. Então, esse grupo de vertebrados já existia desde o tempo dos dinossauros, alguns grupos, como esse Enantiornithes, que viveu onde hoje é Presidente Prudente, só que esse grupo Enantiornithes foi extinto, em outro grupo, chamado de Neornithes, existe até hoje, que são as aves de hoje", esclareceu.

Mas os achados de Enantiornithes do sítio de Presidente Prudente "são excepcionais". "Um professor de Los Angeles [EUA> considera que esse local urbano de Presidente Prudente é o melhor em todas as Américas pra fóssil de ave", contou Nava.

O professor, Luís Chiappe, realiza diversas pesquisas na China, outro país de referência em fósseis de aves, mas afirma que os materiais encontrados em Presidente Prudente são melhores na conservação. No país asiático, são localizados esqueletos inteiros e em grande quantidade dos períodos Cretáceo Inferior e Superior, mas geralmente "esmagados".

"Na China, a situação era lago primitivo. Aqui [em Presidente Prudente> não deveria ser lago, não sabemos ainda, talvez um rio abandonado e os ossinhos ficaram preservados em 3D, três dimensões, dá para ver tudo certinho", explicou.

O paleontólogo contou que foi achado um único crânio associado a um esqueleto de ave e diversas pré-maxilas, com dentinhos, indicativo de que eram aves que possuíam dentes (carnívoros).

Como em Presidente Prudente não foi localizado nenhum osso de dinossauro grande, a região do Parque dos Girassóis pode ter sido um "lugarzinho único aqui na beira de um riozinho, e viviam ali esses pequenos animais, lagartos, anfíbios, as aves, as serpentes; tinha uma comunidade, uma biota ali vivendo e foram repentinamente soterrados por algum evento cataclísmico não ocasionado pelo homem, que não existia naquela época".

"Vamos tentar saber o que aconteceu nesse ponto que tem uma grande concentração de ossos de aves, que evento biológico ou geológico aconteceu naquela época no período Cretáceo que sepultou as aves aqui", anunciou.

Todos os materiais estão no Museu de Paleontologia de Marília.

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