Eu sempre procuro falar sobre um pouco de tudo nas minhas conversas, mas a maioria das vezes são temas que fazem parte da realidade em que eu vivo e das minhas experiências.
O que vou compartilhar hoje não faz parte da minha realidade, mas sim de mais de 200 milhões de meninas e mulheres em todo mundo.
A mutilação genital feminina (MGF) infelizmente é tradicional, principalmente em países africanos, em grupos na Ásia e no Oriente Médio. Ela é uma prática que remove, parcialmente ou totalmente, os órgãos genitais femininos externos, como os lábios e clitóris, por exemplo.
Normalmente o procedimento é feito com uma lâmina usada em várias meninas, sem nenhuma anestesia e assistência médica. Não tem nenhuma indicação ou benefício à saúde, muito pelo contrário, o risco de infecção e hemorragia é gigantesco.
Mas então, por que é feito? É um costume assustador, horrível e tradicional que mistura questões culturais, sociais e religiosas, que começou antes mesmo do surgimento do Cristianismo e do Islamismo, e um dos seus principais ideais é "manter a pureza". Esse é um rito de passagem para vida adulta, um modo de ser aceita na sociedade, de garantir que continue virgem e apta ao casamento.
Sempre falo sobre a importância do prazer feminino, mas essas meninas (pois na maioria dos casos é feito até os 15 anos), são privadas de qualquer tipo de prazer ou humanidade, tornando o corpo delas um objeto de prazer masculino e reprodução, que também é afetada pela mutilação, aumentando em até 55% o risco de morte materna e infantil.
A mutilação genital feminina impacta na vida inteira dessas meninas, como o aumento do abandono dos estudos, casamento e gravidez na infância e adolescência, além das questões físicas e psicológicas que elas irão carregar para o resto da vida.
Infelizmente, ainda há cerca de 68 milhões de meninas continuam em risco de sofrer mutilação genital até 2030.
Vale a reflexão e entender essa realidade tão difícil de muitas meninas e mulheres que vivem essa situação tão dolorosa.
Por Natali Gutierrez - Sexóloga e CEO da Dona Coelha