Tetas & tretas
COLUNISTA - Poliana Possatti
A campanha de Dia das Mães de O Boticário recentemente trouxe uma ampla discussão sobre aleitamento materno nas redes sociais. A propaganda inicialmente visava promover um debate sobre a culpabilização da mulher intitulada #MaternidadeSemJulgamentos.
Sabemos que quando nasce um filho, nasce uma culpa decorrente dos vários julgamentos que vêm junto a maternidade e que estão enraizados no sistema patriarcal que vivemos. Entre as estratégias da marca, retratos em preto e branco de influenciadoras digitais, em referência às fotos policiais com a placa "culpada" tomaram conta das redes sociais. As opiniões de contra e a favor ficaram divididas na internet. O anúncio emocionou muitas mulheres, mas uma outra parte desacreditou na força da estratégia e foi iniciado um grande discussão sobre ressaltar a culpa materna e não falar sobre a importância da amamentação.
Enquanto a classe média decide o vai ou racha com o Boticário, a crise financeira faz com que mães deixem seus bebês com menos de dois meses de vida nas creches de SP*. As matrículas de bebês com essa idade é 22 VEZES MAIOR que antes da pandemia. Conseguem entender a gravidade do assunto? Apenas oito semanas após parirem seus filhos, mulheres estão procurado vagas em escolas para voltarem ao trabalho. Esses bebês ainda tão pequenos e tão dependentes de suas mães não conseguem ser alimentados por essas mulheres que precisam ganhar o sustento da casa e ter comida no prato.
Essas mães, puérperas, que ainda podem sentir as dores de uma cesariana, ficam longe de seus bebês para voltar a trabalhar. Como podemos falar em aleitamento materno se não há comida no prato? Como podemos fechar os olhos para essa situação? É triste! É absurdo! É revoltante! A recomendação da OMS de amamentar os filhos até os dois anos de idade e de forma exclusiva nos primeiros 6 meses de vida parece ser até mesmo abusiva diante dessa circunstância.
Como dizer a essas mulheres que elas precisam amamentar seus filhos? Tenho certeza que a culpa que acompanha essas mães é tão grande que nenhuma campanha do Boticário conseguirá reproduzir.
*Fonte: Folha de São Paulo