O professor tem amor e mais o quê?
COLUNISTA - Wendrell Elias dos Santos Gomes
Recentemente, na data de 20/02/2024, o atual governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, durante o evento para lançamento do programa "Alfabetiza Juntos SP", que trata sobre o setor Educação, teve uma fala infeliz, ao se referir aos professores do estado de São Paulo.
Tal fala, relacionada a outros acontecimentos, pela visão dos professores, indica uma tendência a um projeto educacional destrutivo, haja vista que suas recentes práticas, acompanhadas pelo seu secretário de Educação Renato Feder, evidenciam reais preocupações para a sociedade.
O discurso foi o seguinte:
"A gente sabe que o melhor professor ainda não tem a melhor condição; a gente sabe que eles não têm a melhor infraestrutura; a gente sabe que eles não têm o melhor salário; mas, eles têm muito amor. E, quando a gente for resolvendo as questões fiscais, eu tenho certeza que a gente vai conseguir dar pros professores o que eles merecem. Mas, eles têm feito um grande trabalho. E, é nosso dever fazer a formação continuada. Então, vamos formar, esse ano, quarenta mil professores para trabalhar com isso aqui, alfabetização. (...)"
Essa fala acima é desrespeitosa, pois denota que ele tem consciência sobre as reais necessidades do professorado, mas, ainda não resolveu muitas dessas questões direcionadas às melhores condições, melhores infraestruturas e melhores salários.
No entanto, essa consciência e suposta preocupação sobre as necessidades de melhorias gerais para a Educação Paulista diverge ou contraria seus feitos reais, visto que esse senhor encaminhou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 9/23 para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).
Essa proposta visa reduzir o investimento mínimo para a Educação, que é proveniente da receita de impostos, diminuindo de 30% para 25%. Dessa forma, resulta-se à subtração de 10 bilhões de reais ao ano.
Contudo, associando-se essa sua fala citada a sua concreta PEC 9/23 encaminhada que, por enquanto, foi suspensa sua votação, graças à oposição, claramente, nota-se uma aparente estupidez (saber sobre algo, mas, ainda assim, acreditar em outra coisa). Mas, verdadeiramente, revela um pouco do "hospício" que vivemos, por meio de uma real falsidade (dizer algo perante alguém - "temos que melhorar a Educação", mas que contraria o que é feito em sua ausência "PEC para redução de investimentos da Educação"), real hipocrisia (fingir e querer que outros tenham crenças sobre algo - "apresentar consciência das necessidades", mas quem finge não as tem, na verdade - "não tentar tratá-las") e cinismo (desprezar notórias necessidades - "ignorando que a Educação deve continuar sendo bem investida", somente prometendo resolvê-las).
Essas "qualidades", relativamente, mencionadas se fundamentam, simplificada e redundantemente, em sua tentativa atual de reduzir o investimento para a Educação Paulista; enquanto sabe de que possíveis melhorias dependem de maiores investimentos, e não redução de investimentos. Por isso, não faz sentido; ou só faz sentido na "cabeça de desse mágico". Analogicamente, é como "começar a ter maiores esperanças para melhorar a sua vida financeira, entretanto, ganhando 20% a menos do que antes", o que é uma falta de nexo ou incoerência, "fazendo a sanidade ou realidade passar longe".
Enfim, não resta dúvidas de que, com menos dinheiro, consequentemente, os recursos para investimentos à Educação serão reduzidos, mantendo-se pendentes às melhores condições, infraestruturas e salários de professores para sempre.
Por outro lado, a parte de que "eles têm muito amor", referida aos professores, deve ser analisada e criticada, de modo pragmático.
Realmente, o professor "trabalha com amor". Entretanto, antes de ele "trabalhar com amor", ele trabalha; e, seu trabalho depende de condições, infraestruturas e salários, além de outros fatores, os quais estão tentando ser precarizados, via PEC 9/23 do próprio governo.
Finalmente, caso o professor tenha dificuldades maiores em seu trabalho, o seu trabalho "com amor" não se efetivará; substituindo-se pelo seu trabalho "por amor", o que não existe. Assim, gerará uma profissão super desvalorizada e sem perspectiva, a qual faltará trabalhadores motivados e qualificados, devido à redução de recursos ou escassez e problemáticas em seu entorno.