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O Perigo dos Outsiders na Democracia Brasileira: Reflexões sobre o Populismo e a Fragilidade Institucional

Artigo/Opinião

Professor Fernando Cândido de Paula

  • 09/09/24
  • 15:00
  • Atualizado há 1 semana

Com a campanha eleitoral a todo vapor, é preciso dizer que, nos últimos anos, o cenário político brasileiro tem assistido a uma crescente ascensão de figuras políticas externas ao espectro tradicional, os chamados outsiders. Esses candidatos, muitas vezes oriundos de áreas como o entretenimento, o esporte, o empresariado e agora influencers, têm capturado o descontentamento generalizado da população com a classe política tradicional, promovendo-se como alternativas "não contaminadas" pela corrupção e ineficácia dos partidos tradicionais. Esse fenômeno, descrito por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em Como as Democracias Morrem, coloca em risco os sistemas democráticos de freios e contrapesos que, historicamente, protegeram as instituições de figuras populistas e antidemocráticas.

O descrédito em políticos profissionais e a frustração com o ritmo de mudanças têm criado um terreno propício para discursos simplistas e vazios. Esses outsiders frequentemente adotam retóricas que prometem soluções rápidas e simples para problemas complexos, como a corrupção, a violência e o desemprego. No entanto, essas promessas carecem de propostas concretas e de base em planos de desenvolvimento sustentável, social ou econômico. Em vez de oferecerem soluções mais robustas e detalhadas, eles se apresentam como salvadores messiânicos, os enviados, explorando o medo e a insatisfação popular, muitas vezes sustentados pela fé da população, com discursos fundamentalistas, sem compromisso real com a governança democrática.

A recente massificação das redes sociais e mídias digitais ampliou o alcance desses discursos. Plataformas como Instagram, Facebook, o X, antigo Twitter, WhatsApp, entre outros, se tornaram palcos de desinformação e propaganda política, permitindo que esses outsiders capitalizem sobre fake news e manipulem a opinião pública de maneira eficaz. Os sistemas de freios e contrapesos, que tradicionalmente limitavam o avanço de figuras populistas sem base institucional sólida, têm encontrado dificuldades em conter a popularidade e a ascensão dessas figuras.

A democracia, como bem alertam Levitsky e Ziblatt, depende da coalizão de ideias dentro do jogo democrático. A ascensão de figuras que rejeitam o compromisso com o diálogo e a negociação entre diferentes perspectivas ideológicas baseadas em um objetivo em comum, enfraquece a democracia, uma vez que se torna uma arena dominada por indivíduos que não respeitam suas regras fundamentais. A democracia não é apenas sobre eleições; ela se sustenta em instituições sólidas e com autonomia, imprensa livre, separação de poderes e, sobretudo, no respeito às normas democráticas que garantem a pluralidade de ideias.

Portanto, é importante que a sociedade brasileira se mantenha atenta e crítica em relação a esses candidatos. É preciso entender que a política é complexa e exige mais do que soluções mágicas ou discursos inflamados. A construção de um país justo, democrático e economicamente sustentável só será possível por meio de um processo contínuo de diálogo, participação e fortalecimento das instituições que protegem a democracia, com é o caso do Supremo Tribunal Federal. Caso contrário, o risco de retrocessos se torna iminente.

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