Mais do mesmo? Uma tragédia no litoral paulista
COLUNISTA - Thiago Hernandes
Não obstante do que ocorre anualmente, sobretudo nas estações chuvosas e em áreas de maior vulnerabilidade, a sociedade como um todo foi envolta a mais uma tragédia. Refiro-me às perdas humanas em materiais que ocorreram em São Sebastião no litoral norte de São Paulo.
É fundamental destacar características geográficas desta região:
•É uma das áreas mais chuvosas do litoral brasileiro, sobretudo nos meses de primavera e verão;
•Apresenta uma topografia bastante acidentada - morros - o que a torna potencialmente mais vulnerável a movimentos de massa, como os deslizamentos;
•Negligência do poder público em fiscalizar e ofertar outras opções e locais para construções de moradias.
Especulação imobiliária que encarece o acesso à moradia, ficando aos cidadãos de menor renda as áreas de maior risco. Ocorrem muitas ocupações irregulares.
Feitas estas considerações, é fundamental destacar também que o volume de chuva que atingiu a região em questão no último final de semana foi de 684mm em apenas 24 horas, ou seja, mais que o dobro esperado para todo o mês de fevereiro.
É natural que ante a uma situação como esta em que a chuva é demasiada, tragédia materiais e humanas sejam quase que inevitáveis. Entretanto, tal realidade poderia ser atenuada se, aos que competem com medidas de prevenção e correção - visando a antecipação dos fatos e a redução das consequências.
A necessidade de morar, fundamental na existência humana, não pode esperar. E assim nos deparamos com realidades como esta.
Há um tempo em meu canal no youtube - Geoexplica_com_Thiagohernandes - gravei uma vídeo aula cujo título era: "Chuvas não causam estragos". A abordagem central desta aula foi fazer uma leitura crítica a abordagem feita por muitos veículos de comunicação que ao apresentarem eventos como este de São Vicente dizem "Chuvas provocam deslizamentos de terra", "Chuvas causam mortes" e por aí vai.
Chuvas não causam mortes e nem estragos. O que provoca mortes e estragos é sinergia de negligências do poder público em suas atribuições, ganância do setor imobiliário especulativo e a enorme desigualdade social que não para de crescer em nosso país.
As chuvas sempre ocorreram e tendem a ser cada mais vez mais intensas face aos efeitos das mudanças climáticas. Culpar as chuvas é mais cômodo do que assumir a responsabilidade daqueles que formalmente as tem para agir em prol do bem coletivo.
Ante a este cenário e considerando que cada vez mais estaremos expostos a estes extremos, cabe aos poderes públicos e privados ao alcance de suas competências, bem como a sociedade como um todo passarem a agir sempre e cada vez mais no rumo das prevenções, das antecipações dos fatos e principalmente da superação da desigualdade social.
Veja o vídeo completo: