Mães arrependidas e o pesadelo do maternar
COLUNISTA - Poliana Possatti
Você permaneceria muito tempo em um trabalho completamente exaustivo sendo julgada todos os dias pelo seu desempenho, se dedicando dia e noite, sem hora pra terminar, inclusive às madrugadas? E se eu te dissesse que esse trabalho apesar de algumas recompensas, não irá te remunerar e você terá que desempenha-lo até o seu último suspiro? Parece injusto? Não é injusto para a maioria das pessoas quando trocamos a palavra trabalho por maternidade.
Passamos a vida fazendo escolhas. Se algo nos parece errado, optamos por novos caminhos. A faculdade não é o que você pensava? Tranca o curso! O namoro caiu na rotina? Termina! O colega de trabalho insuportável não te dá paz? Pede demissão! Se casou e não quer ser mãe? Opa, calma lá, vamos conversar.
Por que não podemos fazer escolhas sobre o que se refere exclusivamente a nossa vida e as nossas responsabilidades? Vale a pena renunciar a si mesma para se livrar da pressão social?
A imposição e o julgamento de escolhas sempre irá existir, temos que conviver com ele. E começa muito cedo, quando mal começamos a pronunciar as primeiras palavras já nos questionam sobre o que queremos ser quando crescer.
Você inicia suas escolhas educacionais e posteriormente profissionais e lá vem o tio do pavê perguntar: Mas e os namoradinhos? Você encontra a metade da laranja, faz noivado, se casa e mal dá tempo de abrir os presentes que a famigerada pergunta começa a ecoar: "Quando vai ter neném?"
É necessário normalizar o arrependimento de mulheres que se arrependeram da maternidade. Precisamos conversar com mulheres e meninas sobre o que planejam para suas vidas. É importante proporcionar um espaço seguro e sem julgamentos, longe daqueles que acham inadequado uma mulher não ter filhos.
Ser mãe arrependida não significa que a mulher não ame o seu filho. Elas cuidam, protegem e amam verdadeiramente e a única diferença de qualquer outra genitora é que elas estão apenas arrependidas. E não há nada de errado nisso muito menos na mulher que escolheu não ser mãe. Na verdade tá tudo é muito certo. Suas escolhas estão certas, ela sabe o que quer e sua felicidade poderá ser vivenciada legitimamente.
Mulheres têm direito de escolherem se querem ou não ser mães. A colocação de que só seremos plenamente felizes e completas ao sermos mães é mentirosa. Na maternidade compulsória ser mãe é padecer na angústia e depressão.