A primeira vez que leu o termo internetês, procurava descobrir o significado de três consoantes, juntas, que vieram por uma mensagem - "vlw". Leu aquilo com estranheza, sua experiência com trocas de mensagens era recente e teve a impressão de que seu emissor poderia ter digitado muito rápido e não havia percebido que enviou umas letras sem sentido, um equívoco do corretor, talvez. Repetiu a mensagem, na esperança dele notar o "erro" e mandar uma resposta legível aos seus olhos.
- Conclui a leitura e deixei seu livro no armário, conforme o combinado. Obrigado.
- blza. Vlw.
Lá estavam as letras sem sentido novamente, mas, agora, vinham acompanhadas de outras, mais estranhas ainda. Não teve jeito, precisava descobrir o significado daquilo. Como o mundo já estava totalmente adaptado a Era informacional, bastava "dar um google" para encontrar o significado daquela sigla sem sentido, afinal, o google é a nova Barsa do milênio e a resposta, com certeza, estaria lá.
Digitou as tais letras. Foi como um passe de mágica - Significado VLW: interjeição [gíria> Valeu. '"Como assim, valeu?" - pensou intrigado. "Valeu não tem a consoante W". Estava diante de uma "nova língua", sem regras, a língua digital. Concentrou toda sua atenção nessa forma de expressar o imediatismo e agilidade da Era contemporânea para a comunicação por meio de SMS, chat, Whatsapp, Facebook, Instagram, Twitter, utilizando, para isso, siglas, abreviações, neologismos e, pasmem, até rostinhos amarelos, os "emojis". Ficou maravilhado - "Que aprendizado!"
O mais interessante de tudo é que, em poucas horas, já estava totalmente absorvido nesse dinamismo vocabular e perdido no incômodo vício de linguagem. Leu com muita atenção a recomendação de um linguista: "Apesar de ser um fenômeno linguístico fascinante, a língua digital tem seu emprego muito específico, é exclusivo da informalidade na internet, não sendo recomendado na escola e na vida profissional, já que, nesses ambientes a norma culta é a que deve ser aprendida e preservada. "Não se importou com essa advertência! Era e-mails com carinhas para cá, sms com tudo abreviado para lá: tão rápido, tão compreensível, tão fácil. O problema é que o uso se tornou generalizado, não poupando nem mesmo os contatos profissionais.
Não deu outra, foi chamado na sala do supervisor.
- Boa tarde, Sr. Fulano, o senhor me chamou?
- Sente-se, por favor. Sr. Silva, qual o significado dessa mensagem? - mostrou o Whatsapp recebido:
- "Bm dia, ctrto ass. Vlto dps do almç".
Engoliu em seco e afundou na cadeira, percebeu que poderia ter exagerado no uso da informalidade. Tentou parecer confortável com a situação e respondeu:
- Ah, simples: "Bom dia, contrato assinado. Volto depois do almoço.".
Passou o resto da tarde, como convidado, em uma palestra, on-line, sobre o uso do dialeto virtual no ambiente de trabalho. Descobriu que há diferentes formas de se comunicar, dependendo do contexto inserido, e que a língua padrão ainda deve ser prioritária no expediente laboral, como o linguista havia avisado. Não excluiu o internetês totalmente, impossível disso acontecer, mas "curado de seu vício", agora escrevia mensagens mais adequadas a seu emprego, deixando, assim, a informalidade da língua para os momentos informais do cotidiano.
Atenção: O texto apresenta personagens e nomes fictícios. Qualquer semelhança com a vida real trata-se de mera coincidência.
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Michelle Orsi - Redação
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