Não entendo muito de problemas. Mas se um vizinho vier repercutir comigo toda negativa que ele teve durante seu dia de trabalho árduo, eu ei de ouvi-lo atentamente e, como bom amigo que sou, irei aconselha-lo ao final de que tenha paciência, pois a vida realmente nos prega peças e não é uma boa solução jogar tudo pro alto e tentar encontrar outras rotinas pra se desamparar.
E isso é o mínimo que faço, uma obrigação de amigo - ser humano que se preze - estender os meus ouvidos, um bom aperto de mão e um abraço sincero a um conhecido desesperado em colocar pra fora todo o seu descontentamento.
Mas isso que faço com frequência e com todo o meu prazer de gente boa, é uma aventura em extinção.
Cada vez menos ombros estão dispostos a ouvir lamentações. A cada dia que passa, as amizades se distanciam e não encontramos bons ouvidos em horas ruins. Por vezes, nos faltam palavras clichês, que apenas nos glorificam, nos colocam de pé para no outro dia encararmos novamente os desenganos que nos cercam.
Acho que nós nos perdemos pelo caminho. Foi cada um pra um canto. Há pessoas que batem seu ponto em esquinas perigosas e obscuras. Outros cidadãos passam seus dias em ruas confusas, com casas trancadas. Há também indivíduos, talvez a maioria, alocados em longas avenidas, movimentadas por ideologias, pensamentos, sentimentos diversos... e que têm a solidão como a única saída.
Sentado nesta redação, acabei de dar bom dia à moça do café, que estava de cara amarrada. Talvez ela tenha tido uma noite ruim. Acordou mal-humorada e veio cumprir seu horário. Eu já havia feito o mesmo quando acordei e me deparei com aqueles olhos de jabuticaba. A desejei um belo dia de trabalho e com um beijo na testa, me despedi.
Ainda acredito que podemos deixar aos nossos descendentes um legado de mudança. Talvez as coisas se modifiquem quando a gentileza - gesto nobre de nobreza e elegância - se espalhar por essa cidade.
Afinal, um feliz e sincero bom dia pode mudar o mundo.
Um ombro amigo, disposto a ouvir e amparar, pode mudar uma vida.