Chega! A gente não quer mais esperar
COLUNISTA - Poliana Possatti
É fato que a luta das mulheres não tem sido em vão. Temos conquistado cada dia mais o nosso espaço em todas as esferas: na sociedade, na política e principalmente no mercado de trabalho. Este último que tanto nos açoita e tira a nossa paz quando junto falamos sobre Maternidade.
Até eu ser mãe, estava enganada sobre várias coisas. Uma delas é que eu me deixava levar na ideia de que o abismo social entre homens e mulheres estava cada vez menor. Chegou bebê em casa e um corrida desenfreada começa: "Como conciliar filhos e trabalho? Consigo pagar uma babá? Mas vou trabalhar pra pagar uma babá? Já sei, colocarei na creche! Mas aulas pararam por conta da COVID! Vou pagar uma particular. Orçamento apertou, vamos voltar pra escola pública. O quê? Greve dos professores?" E assim segue o nosso dilema matando um leão por dia para poder trabalhar e cuidar dos filhos.
Na semana passada, após a notícia da greve dos professores, a exaustão me consumiu. De tanto pensar em estratégias e no que seria melhor pra minha filha, literalmente com o caderninho nas mãos lamentei comigo mesma: Não sei o que irei fazer pra trabalhar segunda-feira. É pedir muito pra seguir com a com a vida profissional e ganhar nosso dinheiro? Por que é tão difícil seguir com as duas coisas?
E pra piorar, somos colocadas em teste diariamente pela família e amigos sobre: "o que seria melhor pro bebê?" "Não é melhor você ficar em casa até os 2 anos?" "Mas e se acontecer alguma coisa com ela?" Além de inúmeros julgamentos e da enorme culpa que nos consome diariamente, somos submetidas a questionamentos desconfortáveis e anti éticos dentro do ambiente profissional. Existe um julgamento muito errado de que mães de crianças pequenas não são produtivas. Tenho certeza que deixaríamos muito empregador embasbacado ao ver como a gente lida com a rotina dos pequenos. Quando nasce um bebê é como se acionássemos o botão multitarefas e tenho certeza que entregamos muito mais em 6 horas do que aqueles que trabalham 12.
Talvez o abismo entre homens e mulheres no mercado esteja diminuindo, mas não tanto quanto gostaríamos. A pesquisa Women in Business, da multinacional britânica de consultoria Grant Thornton, aponta que o ano de 2021 a presença de mulheres em cargos de liderança aumentou para 31%. Contudo, mesmo com esse crescimento ainda levaremos 267 anos para conseguir uma equiparação igualitária com o salário dos homens. 267 ANOS! A gente não tá mais a fim de esperar tudo isso. Queremos pra ontem. Afinal, a gente consegue administrar trabalho, casa, filhos e marido. O que mais querem de nós?