Carta aberta à Joana Ribeiro Zimmer
COLUNISTA - Poliana Possati
À Meritíssima Juíza de direito Joana Ribeiro Zimmer
Venho por meio desta carta informar caso ainda não tenha ficado claro após repercussão nacional sobre a sua recusa no pedido de aborto legal da menina de 11 anos ter sido estuprada, que venha a público se retratar à menina e sua família sobre todos os questionamentos que foram feitos à vítima em seu caso.
Violência, tortura e constrangimento. Não bastasse tudo que o que essa criança já tenha passado, todas as marcas que a acompanharão para o resto da sua vida, vosso questionamento tórrido parecia que nunca mais acabaria. Se pra quem assistiu já foi difícil ouvir todas aquelas perguntas, o que dirá uma criança de apenas 11 anos vítima de um estuprador. Isso mesmo, ESTUPRADOR, meritíssima. Ele não é pai, ele é um abusador que deve ser condenado.
Que fique bem claro, Doutora Joana: a menina também não é mãe.
Uma menina com 11 anos não tem condição de se tornar mãe.
Não utilize das suas crenças para justificar o injustificável. Sim, crenças. Não há preceitos para acreditar que uma magistrada com "uma biblioteca caríssima com livros importados" infrinja o princípio da impessoalidade e moralidade para prosseguir em um caso como este.
Excelentíssima juíza, você é especialista em Processo Civil, tem mais de 10 artigos publicados e faz seu doutorado com enfoque na primeira infância. Como se reportou à menina daquela forma com perguntas tão algozes? Qual foi o sentimento que te permeou naquele momento? Você realmente acredita que caberia perguntas sobre "como engravidar", "qual seu sentimento pelo bebê", e se ela conseguiria suportar ficar com o feto do abusador mais um pouquinho?
É oportuno afirmar que o direito da criança e adolescência é sua paixão e sua dedicação, seu carinho, seu amor após dizer a uma criança de 11 anos que o bebê dela já é um ser humano? Mostrar mínima preocupação ao perguntar o que ela quer de aniversário e em seguida questionar se ela quer escolher o nome do bebê?
Que os magistrados do Brasil se mantenham bem longe da sua biblioteca caríssima. Não é possível que esses livros não lhe deem a mínima decência e empatia sobre quais perguntas deveriam ser proferidas àquela menina. Ou então sobre quais tipos de assunto não deveriam ser mencionados, visto o não agravamento da situação trágica e traumática em que ela tem passado.
Você conseguiu ter a mínima empatia de se colocar no lugar dessa mãe que descobriu que a filha estava grávida após ser estuprada? O seu malhete açoita esta mãe e criança e acaba com as mínimas esperanças que tínhamos em dias mais justos. Você trocou a venda da imparcialidade da justiça pela venda do moralismo, vossa excelência.
Sobre a sua permanência em uma função tão nobre e que deveria ser a luz no fim do túnel - em um país com um abismo social cada vez maior - cabe-nos continuarmos a acreditar que um dia a justiça será feita neste país.