As tensões na Geopolítica Internacional ganham novos capítulos
COLUNISTA - Thiago Hernandes
Não obstante do vivenciado em outros anos, as tensões geopolíticas entre países voltam a ser tema central no palco das questões internacionais em diversas vertentes.
Em um mundo já envolto a enormes desafios, tais como: mudanças climáticas, COVID-19, intensos fluxos migratórios, dentre outros, o (re)acirramento das relações entre diversos países passam a "engrossar" o rol de demandas e preocupações globais.
Neste contexto, volto-me mais precisamente às relações entre a Rússia e a Ucrânia. A história relacional destes os dois países, sobretudo ao longo do século XX, é marcada com constantes alternâncias entre alinhamentos e desalinhamentos políticos/econômicos/ideológicos/militares.
Entre os anos de 1922 a 1991, a Ucrânia esteve sob o domínio da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mais conhecida como URSS, cujo poder majoritário estava nas "mãos" da Rússia. Apesar deste contexto, a influência russa nunca foi unânime, visto que o território da Ucrânia é territorialmente dividido em duas grandes frentes de ocupação: o oeste de maioria populacional étnica ucraniana e o leste de maioria russa.
Porém, desde o ano de 1992, já com o fim da ex-URSS, novas páginas das relações entre os dois países foram escritas, sendo que muitas delas com intensos registros de conflitos.
Tal fato decorre de uma sinergia de fatores, tais como:
• A maioria da população do leste é de origem russa, e sentem-se preteridas das políticas públicas do poder central do país, e por este motivo, incluindo a questão da identidade, sobretudo a linguística, sempre desejaram a (re)ampliação da influência russa;
• Desde o fim da URSS, a Rússia, a grande herdeira do poderio militar da União Soviética, implementou uma agressiva geopolítica militar externa, visando reestabelecer seu papel de centralidade internacional outrora vivido;
• Desde que assumiu o cargo de presidente da Rússia, Vladmir Putin vem estabelecendo política de oposição aos interesses dos Estados Unidos no Leste Europeu, e como tal, vem expandindo suas relações externas para ampliar constantemente sua base de apoio internacional, contando com apoio de estratégicos players como a China e o Irã;
• A Ucrânia por sua vez, teve ao longo destas quase duas décadas, governos que muitas vezes foram inoperantes, inábeis nas relações internas e sobretudo, passou a alinhar-se com constante tendência pró-ocidente - EUA e seus aliados.
E, é justamente neste cenário que no ano de 2014 Rússia e Ucrânia novamente se conflituaram, desta vez pelo controle do território da Criméia, uma pequena ilha de enorme valor estratégico que desde o ano de 1954 estava anexada ao território ucraniano, ato este conduzido pelo então líder soviético Nikita Khrushchev. Naquele ano, de forma unilateral, sem aval internacional e como parte da geopolítica expansionista russa de Vladmir Putin, o Estado russo realiza um plebiscito na Criméia, que em sua ampla maioria diz SIM à (re)anexação desta região aos domínios russos.
Mesmo sob forte tensão e sem nenhum aval da ONU, o resultado do plebiscito é executado e tropas russas passaram a ocupar este território. Como resposta, a Ucrânia que desde a sua independência pós fim da URSS alinhou-se ao ocidente, buscou apoio militar estratégico junto aos EUA e seus aliados e por algumas semanas, pode-se dizer que o mundo este à "um passo" de uma guerra de dimensões certamente trágicas, visto que os agentes envolvidos são potências nucleares.
Assim, é neste prisma que ao final de 2021 mais uma vez Rússia e Ucrânia tem suas relações internacionais agravadas.
Desta vez está em pauta a movimentação do acordo de ingresso da Ucrânia à OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar criadas nos tempos da Guerra Fria para "proteger" os países aliados dos EUA das possíveis ameaças soviéticas. Nos dias atuais, representa uma aliança bélica de países rivais da geopolítica internacional russa.
Temendo o aumento da presença ocidental no chamado leste europeu, a Rússia está colocando ao longo de diversos pontos da fronteira com a Ucrânia militares fortemente armados e prontos para invadir ao comando do líder russo Vladmir Putin.
Como resposta a esta movimentação, a OTAN liderada pelos EUA, conduziu várias tratativas com a Rússia como forma de atenuar as tensões, porém, ambos os lados estão inflexíveis, visto que a Rússia não quer a Ucrânia entre na OTAN, e as potências ocidentais não aceitam tal imposição russa.
O que vai ocorrer ainda é uma incógnita, visto que a qualquer momento podemos ter um acordo de paz ou uma movimentação militar com desdobramentos incertos.
Finalizo este artigo remetendo ao pensador Raimundo Ferreira, quando diz "a paz mundial só será alcançada quando pararmos de disparar balas e começarmos a lançar amor".