*Por Elisa Barbosa
Em 1914, Henry Ford criou a linha de produção, o que aumentou a produtividade em sua fábrica em níveis astronômicos. Um carro que demorava aproximadamente 12 horas na montagem, passou a demorar 1,5 hora. Ford dobrou o pagamento de seus funcionários e diminuiu a carga horária de 6 para 5 dias por semana, e de 9 para 8 horas diárias.
O aumento na produtividade e a lealdade dos funcionários fizeram com que outras fábricas adotassem o mesmo modelo, o que levou à promulgação da Lei de Padrões Justos de Trabalho, a FLSA, aprovada em 1938, que define os padrões para, dentre outros direitos trabalhistas, o salário mínimo e o pagamento de horas extras.
Dentre as inspirações de Henry Ford para a semana de 40 horas de trabalho estão alguns ativistas cujas ideias datavam de 100 anos antes, como Robert Owen (1817), e defendiam que a semana de 70 horas de trabalho eram brutais e insustentáveis. Para além disso, convenientemente para Ford, os turnos de 8 horas mantinham as fábricas abertas 24 horas por dia. E, para o capitalismo funcionar, os trabalhadores precisavam ter tempo livre suficiente para gastar o dinheiro que ganhavam em seu trabalho, incluindo a compra de carros.
Os economistas da época acreditavam que a tendência da diminuição nas horas trabalhadas semanalmente continuaria, em especial, com o avanço da tecnologia. John Maynard Keynes (1933) defendia que, em 2030, estaríamos trabalhando em torno de 3 horas por dia. No entanto, a realidade mostra que estamos presos numa cultura de excesso de trabalho.
No início da pandemia de Covid-19, já estávamos vivendo uma outra pandemia: a de burnout. Foi durante a Covid que as pessoas passaram a reavaliar suas prioridades e, assim, deu-se início a uma leva de demissões. Muitas empresas estão se ajustando a um novo método: a semana de quatro dias úteis. O projeto "The 4-DayWeek Global" tem sido testado em vários países: são 91 empresas em países como a Islândia, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Irlanda e Nova Zelândia, além do Reino Unido.
Algumas empresas no Brasil também adotam esse novo modelo. Estudos apontam que a produtividade aumentou, a satisfação no trabalho foi maior para mais de 45% dos participantes e 60% disseram que melhorou o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Entre os países que relatam no estudo 4 Day Week, as receitas aumentaram em média 8,14% e aumentaram impressionantes 37,55% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Além disso, ao diminuir o número de dias trabalhados, há menos necessidade de deslocamento de trabalhadores, o que significa uma menor pegada de carbono, beneficiando também o meio ambiente.
Tudo aponta que estamos atrasados para essa atualização.
*Elisa Barbosa é advogada atuante na área de migração pelo Instituto ProBono e ProMigra/USP, mestre pela UNESP e consultora em ESG - OAB/SP 365.622