A história de amor entre um homem e seus cães
"O que sentimos um pelo outro é amizade sincera"
Nilson Antonio da Silva, 61 anos, é uma figura conhecida de Assis. Ele anda com um cachorro em cima de seu carrinho, no qual coleta materiais recicláveis. Ele já foi caminhoneiro, mora distante da família. Hoje, sua família é o seu cachorro Pretinho, mas antes o seu fiel escudeiro foi o Negrinho, um cão que lhe acompanhou por nove anos, inclusive em uma Romaria na cidade de Aparecida do Norte/SP em 2009, mas veio a óbito no ano passado.
O catador de materiais recicláveis mora no Bairro Santa Clara, mas nem sempre residiu em uma moradia própria. Ao longo dos últimos anos perambulou em locais que chamou de abrigos, no qual morava em troca de favores, como postos de gasolina, borracharias, entre outros locais.
Nilson conheceu Negrinho em uma noite gélida no outono de 2005 Ele conta que dormia nas obras de um posto de gasolina que estava sendo construído próximo à Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Assis quando uma cachorra grávida passava.
"Ia dormir no posto. Aí tinha uma molecada chata atazanando a cachorra. Ela fugiu para junto comigo no local em que estava. Ela passou pelo alambrado e ficou a noite toda comigo, quando acordei, tinham nascido nove filhotes", relata.
Depois disso, Nilson conversou com o pessoal da UNESP, que o ajudou a cuidar da cachorra e dos filhotes, dando alimentação a eles e tentando encontrar donos aos animais. No entanto, Nilson acabou ficando com um filhote e deu-lhe o nome de Negrinho.
A partir disso, Negrinho tornou-se o seu fiel escudeiro, virando tema de reportagens da TV TEM e do Jornal de Assis, quando Nilson foi fazer à romaria em Aparecida do Norte.
"Demorei trinta e um dias para ir e trinta para voltar. Fiquei quatro dias com o Negrinho lá, fomos benzidos, o nosso carrinho com a bandeira da COCAASSIS e a bandeira do Brasil também foi", conta.
Negrinho e Nilson foram grandes companheiros ao longo de nove anos. Nesses anos Nilson dividiu pouso, comida, momentos de tristeza, angústias e felicidade com o cão.
"Fiquei muito triste com a sua morte. Eu levava para passear de moto. Todos os dias de manhã era o Negrinho e eu na labuta da vida pra catar os papelões, mas infelizmente o meu cachorro morreu. O veterinário cuidou dele de graça junto com a população. Eu não tinha dinheiro para tratar do seu câncer, infelizmente Negrinho não resistiu e morreu", emociona-se.
Dois meses após o falecimento de Negrinho, foi o momento de Pretinho passar a ser o companheiro de Nilson. Ele relata que em um dia de manhã coletava papelão próximo à loja de calçados Sapattu Mania, quando um carro com placas de Cruzeiro parou para entregar-lhe uma caixa.
"Uma mulher desceu do carro me entregando a caixa. Ela falou para abrir a caixa, quando abri vi que era outro cachorrinho. Na hora, não sabia como agradecer, chorei. A moça que me entregou me perguntou se estava feliz", conta emocionado.
Depois do ocorrido próximo a loja de calçados, a vida de Nilson aparentou ter mais sentido, ele conta que estava muito sozinho com a ausência de Negrinho, e nem pensava mais em adotar um cão, mas o Pretinho apareceu e agora está aprendendo a fazer as mesmas coisas que o seu antigo cão.
"O Negrinho foi ele, o Pretinho não vai substituí-lo, mas me sinto feliz por ser agraciado com este cachorro, que levei ao veterinário Darci, que cuidou do meu antigo cachorro. Há oito meses estamos juntos. Estou ensinando a andar no carrinho e de moto. No entanto, não estou com ele aqui, mas sempre andamos pelas ruas", disse.
O fotógrafo amador da cidade, Eduardo Rodrigues Oliveira, cedeu fotografias que fez em Preto &Branco de Nilson e Negrinho. O fotógrafo relata como fez a foto. "Esta foto fiz em 2009. Era estudante do Ensino Médio ainda. Estava indo para a escola quando me deparei com a cena e pedi para fotografar o Nilson com o seu cachorro. Não sabia que o seu cão morreu. Felizmente Nilson tem um novo companheiro", diz Eduardo.
Hoje, sua família é o seu cachorro Pretinho
Nilson e Negrinho - Foto: Eduardo Rodrigues Oliveira